RENATA CRISTINA DE SOUSA NASCIMENTO é formada
em História pela Universidade Federal de Goiás (1994), fez Mestrado em História
na Universidade Federal de Goiás (1998) e Doutorado em História na Universidade
Federal do Paraná (2005). Foi na UFPR que nos conhecemos. Dividimos a mesma
orientadora, Profa. Fátima Regina Fernandes. Essa experiência acadêmica
favoreceu um laço de amizade tão forte que ludibriamos a genética em favor de
um parentesco de coração. Renata é Professora Associada I da Universidade Federal
de Goiás (Campus de Jataí), da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e da
Pontifícia Universidade Católica de Goiás (Mestrado em História). É
Pesquisadora do Núcleo de Estudos Mediterrânicos (NEMED/UFPR) e participa da
Rede Luso-Brasileira de Estudos Medievais.
Renata Nascimento trabalha
muito, escreve à beça, é adorada por seus alunos, respeitadíssima entre os
colegas, é mãe do João Paulo, mulher do Celso, filha da D. Marilene, irmã da
Roberta, do Paulinho e minha também!
LITERISTÓRIAS: Você se doutorou
em 2005 e esse é seu 2o estágio pós-doutoral. Por que sentiu necessidade de
realizar o estágio desta vez? Que novas perguntas precisava responder?
RENATA: No final
de 2014, comecei a pesquisar um novo tema, relacionado às relíquias da paixão
de Cristo na Idade Média. No contexto medieval português, a relíquia da Vera
Cruz de Marmelar foi possuidora de grande prestígio, estando sob a custódia da
Ordem do Hospital. Estes fragmentos possuíam muitas utilidades, como a
capacidade de atrair peregrinos (pois eram vistos também como amuletos contra a
má sorte), incentivavam o povoamento de uma região, servindo para a
estruturação do espaço cristão na Península Ibérica. Outro aspecto fundamental
são os usos políticos das relíquias. Parte do material relacionado a esta
pesquisa eu já possuía, mas de forma fragmentada. A necessidade do estágio de
pós-doutoramento esteve ligado à possibilidade de adquirir mais material e
documentação sobre o tema. Outro objetivo era estar em contato com os
medievalistas portugueses, especialmente a Drª Paula Pinto Costa, da
Universidade do Porto, principal estudiosa do corpus documental da Comenda de
Vera Cruz do Marmelar. Então, meu interesse atual de pesquisa refere-se ao
estudo dos fragmentos da paixão de Cristo em sua perspectiva simbólica e
política. Além dos pedaços considerados na Idade Média, provenientes da Santa
Cruz, destacam-se os Sudários de Turim e Oviedo e a Coroa de Espinhos, hoje
pertencente aos tesouros da igreja de Notre Dame, entre outros.
LITERISTÓRIAS: Conte um pouco
como foi a sua rotina de pesquisa em Portugal?
RENATA: Estive
inicialmente na Universidade de Lisboa, participando de um congresso sobre a
conquista de Ceuta, aproveitando também para iniciar a pesquisa bibliográfica
na Biblioteca Nacional, da mesma cidade. Posteriormente me instalei com minha
família e depois, sozinha, na Cidade do Porto. Na biblioteca da Flup (Faculdade
de Letras da Universidade do Porto), é possível ter acesso a uma boa quantidade
de referências bibliográficas e documentais sobre história medieval, história
da religiosidade em Portugal e sobre temas específicos, como o culto a Vera
Cruz em Portugal. Durante a semana, dedicava-me à pesquisa e reuniões com minha
supervisora, contando também com a preciosa ajuda de outros medievalistas
portugueses, como o Dr. José Marques (Universidade do Porto), o Dr. Saul António
Gomes (Universidade de Coimbra), a Drª. Maria de Lurdes Rosa (IEM/ Universidade
Nova de Lisboa) e o Dr. João Paulo Costa CHAM), que me recebeu gentilmente na
Universidade Nova de Lisboa. Nos fins de semana. aproveitava para visitar
cidades próximas, que me remetiam ao contexto religioso medieval.
LITERISTÓRIAS: No seu perfil do
FB, você anunciou que traz para o Brasil 85 novos títulos. Destaque algumas
dessas aquisições.
RENATA: Sobre meu
tema de pesquisa, destaco o Livro dos Bens de D. João de Portel, Cartulário do
Século XIII, do qual antes só possuía uma pequena parte. Trouxe também
documentação editada, mas de difícil acesso, como as Visitações a Mosteiros
Cistercienses em Portugal (séculos XV e XVI), reunidos por Saul António Gomes,
além de várias publicações do IEM (Instituto de Estudos Medievais), entre os
anos de 2013, 2014 e 2015. Destaco também uma antiga edição completa, em
espanhol, oriunda de Santiago de Compostela do Liber Sancti Jacobi- Codex
Calixtinus, contanto com o Guia do Peregrino, ou livro cinco. Entre fontes
documentais de grande interesse histórico, cito a tradução do Livro de
Eclesiastes, da autoria de Damião de Góis, que teve sua segunda edição em 2014,
pela Fundação Calouste Gulbenkian. Sua primeira edição aconteceu em Veneza em
1538. O século XVI foi um período de profícua tradução da Bíblia no contexto
ocidental, incentivada em grande parte pela ascensão protestante. Portugal, por
sua tradição católica, foi visto como lugar adverso a este fomento. O livro de
Góis vem desmistificar esta interpretação. Pretendo em breve fazer uma resenha desta
importante obra.
LITERISTÓRIAS: Renata, você é uma
pesquisadora experiente e a experiência ajuda a gente a enfrentar os desafios,
mas não os faz desaparecer... Quais foram os desafios que enfrentou?
RENATA: O principal
desafio foi a saudade da família, amenizada pela presença de alguns amigos que
estavam em cidades vizinhas. Não estive no Natal, nem nas festas de fim de ano
em casa. Nesse período, é sempre complicado estar só. Em relação à pesquisa, é
evidente que nem tudo que queria era de fácil acesso, necessitando por isso de
me deslocar a cidades e universidades diferentes. A ajuda e indicação de outros
medievalistas, tanto no Brasil (via internet), quanto em Portugal foi
fundamental.
LITERISTÓRIAS: Fale um pouco
sobre os desdobramentos dessa experiência. Conte seus planos!
RENATA: O principal
resultado do estágio de pós- doutoramento será a publicação de um livro, que
tem por título provisório: “A Visibilidade do Sagrado: Relíquias Cristãs na
Idade Média”. Com patrocínio da Capes, o livro será em coautoria com a Profª.
Paula Pinto Costa (Univ. do Porto). A intenção é que ele seja editado ainda
este ano. Outro objetivo é o de incentivar ainda mais as novas gerações de
historiadores brasileiros, para o estudo da Idade média. Devido a isto trouxe
uma bibliografia mais geral, que estará em breve à disposição dos alunos.
Renata Nascimento e três de suas paixões: os livros, a cidade do Porto e seu filho, João Paulo.
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