sexta-feira, 27 de novembro de 2015
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
Diálogo sobre o tempo - LANÇAMENTO!
Com muita alegria, convido-os para
o lançamento do meu novo livro, escrito com o amigo, o filósofo Jelson Oliveira. Escrevemos sobre o Tempo, sobre a História, sobre a Morte,
sobre a Amizade e sobre o Futuro. Não se trata de uma Historiadora e de um
Filósofo que abordam temas a partir dos seus lugares de eleição, mas de textos
que conversam e extravasam, até para as margens da folha... Nova feição do
Diálogo e da Epistolografia? Talvez... Uma conversa entre amigos, pessoas
tagarelas... entre a Filosofia e História!
Prefácios de Željko Loparić e Fátima Regina Fernandes.
Dia 4/12, a partir das 18:30, na Livraria da Vila (Shopping Pátio Batel). Para abrir a noite, Mateus Sokolowski e seus amigos, a quem agradeço de coração.
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
Resultado do III Prêmio UFES de LITERATURA
Gratidão à comissão que leu o meu pequeno romance por esse reconhecimento!
http://www.edufes.ufes.br/exhibits/show/novidades/resultado-do-iii-pr--mio-ufes-
ESTADO EMOCIONAL: FELICIDADE TRANSBORDANTE!
http://www.edufes.ufes.br/exhibits/show/novidades/resultado-do-iii-pr--mio-ufes-
ESTADO EMOCIONAL: FELICIDADE TRANSBORDANTE!
terça-feira, 24 de novembro de 2015
Carta de uma mãe (que por acaso é medievalista) ao Ministro da Educação, sobre a BNCC
Curitiba,
20 de novembro de 2015
Excelentíssimo Senhor
Aloizio Mercadante, Ministro da Educação,
Não
sei se esta mensagem vai alcançá-lo, mas, se eu não a escrever, vou abrir mão
da possibilidade. Sou Professora de História Medieval na UFPR, desde 2006. Meu
currículo está disponível na plataforma lattes.
Lá, Vossa Excelência vai ver que me formei em Letras, que fiz Mestrado em
Literatura, que mudei de área no Doutorado, que já escrevi alguns livros, até
uma coleção para crianças (a coisa mais linda que fiz em minha carreira), que
tive um livro meu selecionado no PNBE do Professor (em 2013), que tenho um blog
e até me aventuro pela Literatura. Não vou perturbá-lo com mais detalhes sobre
a minha formação e experiência, pois elas podem ser consultadas na rede. O que
me leva a acreditar na possibilidade de ser lida é a BNCC.
Li o
documento com atenção e tenho militado pela colaboração de colegas, alunos e
pais na consulta pública. Tenho uma filha de 7 anos. A Base impactará a
formação de Maria Clara, bem como a de seus amigos e amigas. Impactará o
trabalho de meus alunos e a minha área, que foi construída com tanto empenho no
nosso país, por gerações que já começaram a partir...
Detive-me
na parte dedicada à História. Pensei sobre ela e inseri minha colaboração como
cidadã. Senhor Ministro, a Base tem falhas graves... O mundo não nasceu no
século XVI, como o senhor bem sabe, mas esse é o tom... Conversei com os
colegas de meu laboratório de pesquisa, o NEMED (Núcleo de Estudos
Mediterrânicos) e elaboramos um documento cujos pontos essenciais já foram
incluídos na consulta, ou seja, colaborei individualmente e, de maneira
coletiva, como participante de um grupo de pesquisa cadastrado no CNPq. Um
fragmento de nosso documento:
Imporemos assim, um
brasilcentrismo tão ou mais perigoso quanto o europecentrismo que esta proposta
quer combater. Como discutir Ciência e produção do conhecimento sem antes
conhecerem o contexto de fundação das primeiras Universidades, dos ambientes de
produção do conhecimento nos espaços árabes e gregos, discutir cidadania sem
conhecer o conceito nos ambientes grego e romano, como saber de onde partiram
as primeiras e fundamentais reflexões sobre o Direito desde a época dos romanos
e boa parte das instituições que nos cercam até hoje? Uma parte dos dados
culturais que constituem nossa tradição cultural brasileira seria apagada da
História da mesma forma que antigas escolas europeias fizeram com as culturas
ameríndias e africanas em séculos anteriores segundo interesses específicos. Ao
aplicar seleções de conteúdo a nossos jovens estaremos praticando uma espécie
de revanchismo pobre, ideologizado, tão corruptor das mentes juvenis como o
daqueles que nos antecederam.
Senhor
Ministro, eu sou membro da diretoria da ABREM (Associação Brasileira de Estudos
Medievais) e, em consulta aos meus pares, não consegui descobrir um único
colega que tenha participado da elaboração desse importante documento. Não sei
se esta ausência explica os problemas que encontrei e que outros colegas
encontraram, mas estou disposta a ajudar. É isso que me leva a escrever-lhe.
Senhor Ministro, eu sou uma servidora pública e, depois que a consulta tiver se
encerrado, gostaria de me colocar à disposição do MEC para ajudar a redigir uma
Base que acolha as colaborações de tantas pessoas interessadas na formação das
crianças e adolescentes brasileiros.
Estamos
atravessando uma grande mudança história, as movimentações populacionais que
assistimos vão mudar quem somos e, para termos um futuro, é preciso que
compreendamos as identidades que nos tocam. Sobre o terceiro ano do Ensino
Médio, escrevemos em nosso documento coletivo:
Sobressai a evidência forçada de
que o mundo “começou” no século XVI... Depois de 2 anos repisando essa
inverdade, os alunos podem se convencer de que não houve pensamento, filosofia,
tecnologia, convivência, brilho e dor antes desse “marco”.
Como ao longo de todo o Ensino
Médio, segundo a proposta dessa Base, os alunos ficaram sem conhecer o Ocidente
Latino, Bizâncio e o Mundo Muçulmano, os medievalistas se perguntam como os
jovens poderão entender a ressonância de um fenômeno como a Primavera Árabe?!
Como entenderão a ressonância do Prêmio Nobel para o quarteto de Túnis (a Túnis
do sábio muçulmano medieval Ibn Khaldun...)? Sem entender que o mundo muçulmano
na Idade Média alimentou de filosofia o próprio Ocidente Latino, como as alunas
e os alunos verão homens e mulheres dessa religião, e que chegam hoje ao Brasil
em grandes contingentes, para além do fundamentalismo que a mídia proclama?
Aliás, como entenderão o nascimento do próprio fundamentalismo, cujas correntes
contemporâneas estão radicadas em interpretação equivocada de pensamento
nascido na Baixa Idade Média?
Como um aluno que encerra seus
estudos regulares, entre o Ensino Fundamental e Médio no Brasil, entenderá que
só pode ler Aristóteles porque ele foi traduzido e comentado na Idade Média? Ao
ignorar esse contexto, tiraremos dos jovens a aprendizagem dos caminhos de transmissão
das fontes com as quais o pensamento científico se fez, entre a Época Moderna e
Contemporânea.
O mundo não começou no século XVI
nem para África, nem para o Brasil, nem para Portugal, nem para qualquer outra
parte desse planeta em que homens e mulheres, graças ao conhecimento da
História, podem descobrir que uma guerra pode até ter durado mais de 100 anos
(a Guerra dos Cem Anos: 1337 – 1453), mas que as sociedades do passado
encontraram meios de alcançar a paz. O conhecimento histórico pode dar esperança
aos jovens, ao mostrar com evidências diversas que as sociedades mudam, que se
refazem, que empregam tempo e energia diversos para encontrarem soluções para
seus problemas.
Senhor
Ministro, a História me deu e dá ainda... esperança. Mais uma vez, não sei se
essa mensagem chegará à Vossa Excelência, mas resolvi tentar e dizer claramente
que estou disposta a ajudar.
Despeço-me
com sinceros votos de que sua gestão seja coroada pela elaboração da Base mais
equilibrada para a formação de nossas crianças e jovens: nossos filhos, filhas,
seus amigos, futuros médicos, professores e ministros.
Marcella
Lopes Guimarães.
PS.: Essas foram as leituras de ontem à noite para Maria Clara. Entre as Histórias à brasileira, recontadas por Ana Maria Machado, a "Moura Torta". Depois, Obax, a menina que acreditava em chuva de flor. Que nossas crianças tenham direito à fruição de todas as histórias...
Resposta do Gabinete (de ontem, 23/11/2015):
Coordenação de Gestão e Apoio Administrativo
Gabinete do Ministro
Ministério da Educação
Bloco L – Ed. Sede, 8° Andar – sala 811
Cep: 70.047-900 - Brasília/DF
É(61) 2022.7866
* apoioadministrativogm@mec.gov.br
Resposta do Gabinete (de ontem, 23/11/2015):
Prezado(a) Senhor(a),
Informamos que sua mensagem endereçada ao Ministro de Estado da Educação foi encaminhada à Secretaria de Educação Básica (SEB), por tratar-se de matéria de competência daquela Secretaria.
Caso queira obter mais informações, sugerimos que entre em contato diretamente com a SEB, por meio do e-mail: gabinete-seb@mec.gov.br .
Informamos que sua mensagem endereçada ao Ministro de Estado da Educação foi encaminhada à Secretaria de Educação Básica (SEB), por tratar-se de matéria de competência daquela Secretaria.
Caso queira obter mais informações, sugerimos que entre em contato diretamente com a SEB, por meio do e-mail: gabinete-seb@mec.gov.br .
Atenciosamente,
Coordenação de Gestão e Apoio Administrativo
Gabinete do Ministro
Ministério da Educação
Bloco L – Ed. Sede, 8° Andar – sala 811
Cep: 70.047-900 - Brasília/DF
É(61) 2022.7866
* apoioadministrativogm@mec.gov.br
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
Sobre a liberdade ou o desapego, dependendo do ponto de vista...
Cavalgada
O guia afirmou que o passeio até a
cachoeira duraria uma hora. Era longe assim? Não, era pertinho, mas só dava
para cavalgar até uma parte, o resto se cumpria a pé mesmo e ainda tinha o
tempo de descalçar as botas e avançar para a água. Decidiu-se, agarrou as rédeas e
seguiu o tio e os primos mais velhos. No alto da égua branca, acarinhada desde
a véspera, tinha resolvido não olhar para trás, mas no último pedaço de caminho
em que era possível ver os pais com o coração na mão, ofereceu o consolo de um
olhar. Ao voltar-se, sentiu que seus cabelos encobriam todo o rosto e até
enxugaram uma lágrima. Nunca pensou que se chorasse de coragem, descobriu na
cavalgada.
Tentou lembrar se a mãe passara o protetor
solar, o repelente... Esqueceu o chapéu com flor! Ai, agora, era tarde. Nem
dava para voltar. Eram os primeiros riscos que tinha de assumir. Descavalgou. O
trecho a pé era tão longo quanto o percorrido a cavalo. A ponte é essa tabuinha sobre o riacho? Dá a mão pro tio. Pela mão do tio, chegou aquele absurdo de
água jorrante! Se soubesse, tinha levado maiô. Fica pra a próxima, avisaria à
mamãe. Não, colocaria ela mesma o maiô na mala. Na próxima. Molhou a mão;
mergulhou-a. Achou a mão debaixo d’água maior que a da superfície! Tirou. Era a
mesma mão com pressa de nadar.
Voltar é uma decisão mais comprida
que partir, descobriu. Mais encalorada, sedenta e cansativa. Voltar era
confrontar os mesmos riscos? Os primos apostaram corrida. Tentou convidar a sua
égua mansa a participar da competição, mas o tio fez que não. Olhou para os
lados. Essa plantação de milho estava aqui? Não sabia se os primos, já
distantes, tinham reparado. Parecia uma plantação ainda pequena, toda verdinha,
sem frutos, mas valente. O guia afirmou que esses milhos não alimentariam as
pessoas e sim os animais. Achou curiosa essa sintonia de gostos. O primeiro que
viu foi o pai. Mas logo descobriu a mãe na varanda. Empinou-se para o encontro.
Quando chegou, sofreu a vergonha das palmas. Abraçou-se a égua com quem correu
o mundo e voltou resoluta para os beijos e abraços de quem lhe quis dar.
Para Maria Clara Guimarães Prado que, em 15/11/2015,
fez sua primeira trilha a cavalo, sem os pais.
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
Fátima Regina Fernandes responde: "Afinal o que é esta tal de Prosopografia?"
Vejam
só, hoje de manhã expliquei no café da manhã para um dos meus filhos a
metodologia prosopográfica e ele entendeu!!!!!!!!! Então, em primeiro lugar a
implacável constatação de que temos uma casa de nerds e em segundo lugar, que se ele que estuda Física entendeu e
até achou interessante do ponto de vista metodológico talvez fosse útil tentar
rascunhar a sintética explicação matutina e divulgar no blog da Mar. Mas
será justo destacar que também adoramos falar de abobrinhas em muitos momentos,
não se iludam.
Mas,
afinal o que é esta tal de Prosopografia ?
É uma
metodologia de base de pesquisa em Ciências Humanas, incluindo-se aí, a
História, já bem antiga, mas que hoje a historiografia aplica de forma mais
rigorosa. Vamos ver se conseguimos sintetizar as operações básicas e as
reflexões prévias à sua aplicação.
Em
primeiro lugar, seleciona-se um grupo de estudo que disponha de elementos em
comum, sejam eles profissionais, partidários, a vinculação a uma ordem, facção
ou mesmo estarem todos numa mesma função. Nós, particularmente analisamos um
conjunto de nobres de diversos estratos nobiliárquicos diferentes que compõem a
sociedade política de um determinado rei. Este grupo será objeto de análise: em
primeiro lugar cada um dos componentes deste universo selecionado cuja
trajetória individual será construída a partir de todas as menções encontradas
em fontes. No nosso caso, que trabalhamos com recorte medieval, devemos
considerar que os vínculos e relações de poder têm uma dimensão pessoal, era
assim que funcionava o jogo sócio-político medieval. Analisa-se, de partida,
para cada um, sua origem, condição de nascimento, legítimo ou bastardo, sua
posição na linhagem, primogênito ou secundogênito. Em seguida, as relações
artificiais que completam a rede de vinculações de sangue, quais sejam, as
relações matrimoniais que ele estabelece, as alianças inter ou
intra-linhagísticas que busca construir, da mesma forma que as relações
vassálicas que busca para si.
Mas
esta construção de uma trajetória ainda que individualizada não pode ser
exclusivamente individual, devemos contrapô-la todo o tempo com seu contexto
relacional. Sim, é essencial que haja clareza na problemática específica que
provoca a pesquisa, assim, em nosso caso, o eixo contextual é a instituição
monárquica visto que trabalhamos com a hipótese de que a sociedade política do
rei “x” influencia e em certos casos determina os rumos e focos de sua
governação. Lembrem-se, esta reflexão só é plenamente válida no contexto de
sistema de valores e relações de poder medievais! Para cada contexto tem de
haver uma reflexão específica e um estudo prévio das regras de funcionamento da
sociedade em questão. Assim, em nossa pesquisa, a trajetória do indivíduo deve
ser analisada à luz do contexto de legislação, jurídico e administrativo do rei
com o qual se pretende relacionar.
Além
disso, existe um nível de análise transversal a toda pesquisa histórica, a
crítica externa e interna das fontes que inclui o conhecimento dos contextos de
produção dos documentos sejam eles, cartas, tratados, crônicas, atas,
literatura genealógica, inquirições, qualquer uma delas merece reflexão. Por
que rememorar tal cenário? Por que registrar esta ou aquela informação, doação,
casamento, ordenar em listas genealógicas os nomes dos indivíduos que compõem
uma família, confirmar este ou aquele direito, legitimar esta ou aquela
dinastia através do ato de contar a sua história? Enfim, são muitas as
perguntas para aquele que necessita contextualizar suas fontes. Precisamos
filtrá-las em suas intenções declaradas e principalmente nas sub-reptícias
enquanto avaliamos as condições de validade do relacionamento de seus dados à
trajetória do indivíduo em construção. Assim, quando se realizar a operação de
relacionamento dos materiais documentais o pesquisador estará capacitado a
reconhecer a logicidade do ordenamento das fontes a considerar em sua pesquisa
evitando a produção de resultados equivocados.
Finalmente
chega-se ao momento de relacionar as trajetórias individuais entre si de onde
se poderão extrair perfis de atuação, produto por excelência deste tipo de
metodologia. Analisar o que ele tem de comum e o que tem de extraordinário, de
competência e excepcionalidade em seu contexto. Este tipo de conclusões
permitem que escapemos de generalizações extraídas de obras construídas por
não-especialistas que incorrem no equívoco de reproduzir modelos construídos em
fontes de forte intenção ideológica medieval propagadoras de modelos ideais de
nobre, cavaleiro, rei, mulher e tantas outras categorias que seria fastidioso
citar. Afinal, fazer ciência é justamente fugir da generalidade e entrar na
Demanda do Graal da especificidade!
Bem,
tomara que meu texto tenha escapado das artimanhas do hermetismo acadêmico que
vaga por todo mundo tentando encobrir as incompetências com um manto de
sabedoria inalcançável! Pelo menos, de minha parte, foi um prazer dividir com
vocês estas reflexões que podem inspirar outros a participarem desta aventura
irresistível do conhecimento.
por
Fátima Regina Fernandes
Professora de História Medieval na UFPR (quase titular... Dezembro chega logo!!!!!!), minha orientadora no Doutorado.
Professora de História Medieval na UFPR (quase titular... Dezembro chega logo!!!!!!), minha orientadora no Doutorado.
Foto tirada no casamento de nossos queridos alunos Naiara e Thiago Stadler!
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