Na semana passada, participei do
VII Ciclo Internacional de Estudos Antigos e Medievais (CEAN) do Núcleo de
Estudos Antigos e Medievais da UNESP – Assis/Franca – Brasil, que aconteceu
este ano em Franca. O título do evento foi “História e Arqueologia nos laços
culturais entre a Antiguidade e a Idade Média” e o subtítulo foi “Homenagem aos
nossos ex-alunos e demais amigos”. O evento começou na 2ª, dia 18/9, e terminou
na 6ª, dia 22/9. Eu cheguei a Franca dia 19, mas só tive condições físicas de
participar dos trabalhos a partir da 4ª, dia 20, dia mesmo em que falei.
Queria apontar 2 aspectos essenciais
na experiência de que vivi de 4ª a 6ª feira: a reunião de antiquistas e
medievalistas e o subtítulo do evento. Em relação ao primeiro, o ciclo me
permitiu aprender à beça. Eu adoro aprender e os temas foram os mais variados: desde
festas e festivais, até vidas de santos ou hagiografias, modelos imperiais e
anti-modelos, cultura material (o que foi aquela coluna romana no castelo
cruzado???! Spolia[1]!);
experimentei ampliar o que eu mesma julgava saber sobre o vinho[2]; sobre as continuidades e
descontinuidades semânticas de vocábulos medievais; animou a necessidade que
devemos nos impor de voltar às fontes e interromper a cadeia de citação
sistemática dos erros de intérpretes de prestígio; ampliei minhas referências;
refleti sobre respostas dadas pelas sociedades do passado a problemas que
parecem próximos aos que vivemos... Minhas anotações foram mais robustas para a
aquilo que preciso estudar mais ou que ignoro. Tive de pedir um bloquinho
novo...
Em reação ao subtítulo, foi com
forte emoção que me vi entre os “demais amigos” e disse, antes de proferir a
minha palestra na 4ª feira que estava feliz não por receber homenagens, mas por
estar bem acompanhada e foi assim que estive sempre em Franca! Revi pessoas que
respeito muito, por quem tenho grande afeto, amizade, algumas que eu conhecia
há um certo tempo, mas exclusivamente no ambiente virtual (tendo mesmo
participado de suas bancas por skype!!!). Vi o carinho com que os ex-alunos,
ex-alunas, alunos e alunas da Profa. Margarida Maria de Carvalho que me
convidou para o evento a tratam. São algumas dessas pessoas professoras doutoras
de instituições de prestígio, pesquisadoras jovens de muita expressão! Eu
reparei e fiquei comovida com seu desvelo [Digressão rapidinha: quando eu
estava no Mestrado, esperava na porta da Faculdade de Letras até ver D. Cléo
chegar, dirigindo o seu automóvel Santana e lá ia eu, apostando corrida com meu
amigo José Elias Néder Jr[3], até o estacionamento para
pegar a mala, Os Lusíadas, as folhas,
ou o que quer que ela quisesse me entregar. Às vezes, ele pegava mais livros,
era muito sedutor!, e eu lhe tinha ódio mortal! Fizemos essas coisas para o
querido Ronaldo Lima Lins. Também carreguei com gosto bolsas de Teresa Cristina
e, em Franca, tive meu revival, quase
empurrando os ex-alunos, para ter o privilégio de carregar a pasta preta da
colega Margarida Maria de Carvalho rsrsrsrs. Para quem nunca admirou de verdade
os seus mestres e percebeu que eram só humanos envergando com o peso desgraçado
de suas pastas e mochilas, essa digressão, já meio (muito) longa ressoa à pura
puxação de saco... Desolée! Sqn...]
Eu vi muito jovens pesquisadores,
alunos de graduação, mestrado e doutorado; havia mesmo os nossos jovens, da
UFPR! Fotografei todo mundo, esses jovens e os colegas de Antiga e Medieval em
suas mesas. Coloquei-os todos em minha TL do FB, pois se escolhi permanecer
nessa rede social, a despeito de minhas vontades semanais de abandoná-la, é
para fazer a difusão em grande medida do que me afeta. A pesquisa me anima!
Li comentários diversos dessas
fotos, que eu publicava com o título da mesa ou do simpósio. Li de colegas o
desejo de ler os textos apresentados e lamento sinceramente que minha área
tenha destruído os anais como resultados desses grandes encontros científicos.
Eu tenho em meu escritório anais estrangeiros recentes e brasileiros (até o
início dos anos 2000) onde ainda colho referências. [Outra digressão rapidinha:
eu sou fã de atas de congressos (babo nas minhas atas da Société des Historiens Médiévistes de
l’Enseignement Supérieur Public, sociedade de que faço parte na França) e me incomodo muito com as explicações de
gente que respeito para aprovar a sua destruição em nosso meio. Eles me dizem: Mas, Marcella, publicava-se tudo sem
avaliação... Ora, sempre? Não é verdade. Portanto, é só mais um caso da
vitória da prática desprezível sobre uma iniciativa legal. Para que serve um
conselho, meu povo? Vou lamentar muito não ler os textos dos colegas que
apresentaram pesquisas de muita qualidade no VII CEAN, mas eu compreendo que
ninguém vá se esforçar para fazer essas atas, pois também ninguém vai querer
publicar nelas e não enobrecer o seu lattes e avaliação quadrienal dos seus
Programas de Pós].
Eu não vivo em congressos.
Geralmente, escolho um ou dois em um ano, para vivê-lo intensamente. Mas já
cheguei a congressos em um dia e voltei no mesmo dia, quando a filha era muito
pequena, ainda mamava no peito... Ela ainda é pequena e é custoso para mim
enfrentar a separação, mediada pelo avião. Estou convencida, porém, que a gente
deve aproveitar essas oportunidades na sua amplitude. A gente aprende muito nessas
reuniões, faz contatos importantes!
Porque já fui a muitos eventos e na
esperança de ajudar a quem começa a frequentá-los, encerro essa memória de uma
experiência recente tão maravilhosa como foi a do VII CEAN cumprindo a proposta
do título dessa atualização de Literistórias rsrsrsrsrs.
Pequeno
tutorial para os congressistas de primeira viagem
1. Você saiu
de casa, conseguiu dinheiro para se deslocar (quer do paitrocínio, da
mãetrocínio, do seu Departamento, do Programa de Pós...), para quê? Para ir ao
congresso! Não é incrível?!
2. Congressos
são experiências amplas! Se nos congressos são previstas pequenas viagens, vá a
todas (só se aquela verba do item 1 der, é claro...); se foram incluídas
visitas guiadas a acervos e museus, não perca!
3. Congressos
são experiências amplas! – parte 2. Se você está em uma cidade totalmente nova
até então para você, administre seu tempo para conhecê-la um pouco! Só não se
arrisque como bicho solto, nem perca o foco: você foi participar de um
congresso.
4. Congressos
são experiências amplas! – parte 3. Conheça as pessoas! Aproveite os coffee
breaks para conversar com professores e outros alunos. Em princípio, você vai
encontrar gente com quem tem muitas afinidades intelectuais! Geralmente os
professores que não fogem dos coffee breaks rsrsrsrs gostam de conversar com as
pessoas.
5. Não tenha
vergonha de fazer perguntas. Eu sei que pode ser uma experiência desagradável,
se o palestrante for um ser arrogante. Mas vejo cada vez menos gente que se
expõe assim (falo dos palestrantes). Se ficar inibido, tudo bem, aproveite o
final da palestra ou o coffee break para conversar.
6. Não tenha
vergonha de fazer perguntas. – parte 2. Só não seja o louco da palestra, falando
sem objetivo (a não ser o de se exibir) durante o mesmo tempo que o palestrante
teve para expor o seu texto e impedindo que outros tenham a sua oportunidade de
perguntar também.
7. Faça muitas
anotações, não só dos conteúdos das palestras, como dos autores citados pelos
palestrantes, seus e-mails, e-mails dos colegas que você fez no congresso e
nomes das instituições que se notabilizam nas pesquisas pelas quais você tem
interesse.
8. Alimente-se
bem, mas seja reservado nas experimentações gastronômicas. Já conheci gente que
passou o congresso inteiro trancado no banheiro do hotel e eu mesma já vivi as
agruras de uma intoxicação alimentar braba na Espanha (na véspera de minha
conferência!). O que disse sobre reserva, vale para outras experimentações.
9. Deixe em
casa todas as indicações de sua hospedagem, de onde o congresso vai acontecer,
com quem você vai, horários de voos etc. Avise na chegada e faça contato
durante o evento. Isso não é dar satisfação de sua recém adquirida liberdade,
isso é sério.
10.
Se você
vai viajar para um país estrangeiro, faça seguro.
Escolhi essa foto linda, tirada na 4a, dia 20/9, pois ela ilustra um pouco o que é viver um congresso: estar ao lado dos amigos, alunos e conhecer pesquisadores novos (no caso, a querida Graciela Noemí Gómes de Aso)