Cavalgada
O guia afirmou que o passeio até a
cachoeira duraria uma hora. Era longe assim? Não, era pertinho, mas só dava
para cavalgar até uma parte, o resto se cumpria a pé mesmo e ainda tinha o
tempo de descalçar as botas e avançar para a água. Decidiu-se, agarrou as rédeas e
seguiu o tio e os primos mais velhos. No alto da égua branca, acarinhada desde
a véspera, tinha resolvido não olhar para trás, mas no último pedaço de caminho
em que era possível ver os pais com o coração na mão, ofereceu o consolo de um
olhar. Ao voltar-se, sentiu que seus cabelos encobriam todo o rosto e até
enxugaram uma lágrima. Nunca pensou que se chorasse de coragem, descobriu na
cavalgada.
Tentou lembrar se a mãe passara o protetor
solar, o repelente... Esqueceu o chapéu com flor! Ai, agora, era tarde. Nem
dava para voltar. Eram os primeiros riscos que tinha de assumir. Descavalgou. O
trecho a pé era tão longo quanto o percorrido a cavalo. A ponte é essa tabuinha sobre o riacho? Dá a mão pro tio. Pela mão do tio, chegou aquele absurdo de
água jorrante! Se soubesse, tinha levado maiô. Fica pra a próxima, avisaria à
mamãe. Não, colocaria ela mesma o maiô na mala. Na próxima. Molhou a mão;
mergulhou-a. Achou a mão debaixo d’água maior que a da superfície! Tirou. Era a
mesma mão com pressa de nadar.
Voltar é uma decisão mais comprida
que partir, descobriu. Mais encalorada, sedenta e cansativa. Voltar era
confrontar os mesmos riscos? Os primos apostaram corrida. Tentou convidar a sua
égua mansa a participar da competição, mas o tio fez que não. Olhou para os
lados. Essa plantação de milho estava aqui? Não sabia se os primos, já
distantes, tinham reparado. Parecia uma plantação ainda pequena, toda verdinha,
sem frutos, mas valente. O guia afirmou que esses milhos não alimentariam as
pessoas e sim os animais. Achou curiosa essa sintonia de gostos. O primeiro que
viu foi o pai. Mas logo descobriu a mãe na varanda. Empinou-se para o encontro.
Quando chegou, sofreu a vergonha das palmas. Abraçou-se a égua com quem correu
o mundo e voltou resoluta para os beijos e abraços de quem lhe quis dar.
Para Maria Clara Guimarães Prado que, em 15/11/2015,
fez sua primeira trilha a cavalo, sem os pais.
Belíssima crônica de afetos!
ResponderExcluirParabéns a Maria Clara, pela coragem do desbravamento.
Obrigada, querida, por sua leitura!
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