Uma
das grandes razões de LITERISTÓRIAS existir é compartilhar impressões sobre
livros. Outra, sobre filmes! Mas nesse ano e meio de existência, tenho sido
premiada com a colaboração espontânea (ou não... rsrsrs) de amigos, sobre
diversos temas: sobre suas pesquisas, suas atividades profissionais e sua arte.
Em 1º de agosto de 2016, publiquei um texto de Elaine Cristina Senko sobre o
clube do livro de que ela faz parte na cidade de Marechal Cândido Rondon (PR).
Ora, o tema CLUBE DO LIVRO já rendeu muito aqui também, afinal ainda estamos a
ler Em busca do tempo perdido de
Marcel Proust!
Desta
vez, Elaine e uma amiga querida, Natânia
Silva Ferreira, relatam brevemente suas impressões de leitura da autobiografia
da jovem Malala Yousafzai e do filme sobre a sua vida. Mais uma reflexão sobre
o gênero biográfico, em comemoração às mais de 100.000 visualizações em
LITERISTÓRIAS!
Obrigada,
queridas!
Estudando
por onze anos o tema do islamismo seja através da pesquisa ou através da
atividade docente, poucas vezes ouvimos o relato de uma criança sobre a vida atual nos países do Oriente. Através de um momento trágico para uma criança, como foi para Malala, caracterizamos duas reflexões, uma que foi o ápice de um
movimento destruidor contra os princípios pacifistas do islamismo e outra do
despertar de um movimento pela educação feminina ultrapassando até as balizas
de idade. Enfim, através do livro de 2013 Eu
sou Malala e do filme de 2015 “Malala” podemos ter fontes autobiográficas
sobre o tema.
A
luta pela educação é permanente no caso de Malala e nos faz acreditar como
através dela podemos ser agentes sociais transformadores. Um dos aspectos que
chamam a atenção no caso dessa jovem paquistanesa – para além da sua bravura –
é a lembrança de que o islamismo é pacifista e de que os terroristas distorcem
violentamente os princípios dessa fé. Apesar da tragédia que se abateu sobre
Malala, ela continuou (e continua) forte e com ideais humanitários ainda mais claros.
Destaca-se
tanto na obra escrita quanto no filme a pertinência da formação intelectual do
pai de Malala e seu anseio por melhorar a sociedade com a educação. A fundação
de uma escola crítica inspira desde cedo Malala. Alimentada por saberes, cria
uma esfera de combate contra a ignorância e a maldade imposta pelo talibã; combate
ao confinamento das ideias propostas pelo grupo terrorista que resulta não só
em submissão, mas em contra-ataque crítico. Percebemos também a defesa da
cultura que não apenas está restrita ao protecionismo do Ocidente ou pela ameaça
de não retorno, mas que nos comove pela função identitária. Acreditar no mundo
de Malala é também acreditar na função social da educação, bem exemplificada na
frase dita por ela: “Uma criança, um professor, um livro, uma caneta...”!
Nessa
afirmação de Malala encontramos respostas que realmente são capazes de gerar
reflexões profundas no mundo: uma adolescente, Malala, com 15 anos de idade,
lutou com bravura pelo direito à educação feminina; seu pai, um professor, ao
criar uma escola mista, agiu de forma a tentar melhorar a qualidade de vida de
outras crianças e de seus próprios filhos; um livro e uma caneta foram
instrumentos usados por Malala para que o mundo soubesse de sua história
inspiradora.
O
filme e o livro dão relevância para a questão da família, com lembranças do
matrimônio dos pais de Malala. Chamam atenção as falas de seu pai no que diz
respeito à mãe de Malala, quando ele comenta que os dois se completam: quando
se conheceram, a mãe de Malala tinha 14 anos de idade e, enquanto o pai possuía
uma formação cultural acadêmica, a mãe possuía beleza... A forma como o
pai de Malala se expressou pode soar, para nós do Ocidente, numa diminuição da mulher, que
possuía apenas beleza. Vale ressaltar, porém, que avançar nos estudos ou
alcançar determinada formação não eram possibilidades muito exequíveis para as mulheres naquele
contexto do islamismo paquistanês. Apesar disso, mesmo fazendo parte daquele
cenário, os familiares de Malala não a privaram da educação e da liberdade. Liberdade
que a menina ressalta nas obras, ao mencionar que, numa família de sua nação, seria
comum que ela, além de não seguir nos estudos, já estivesse talvez casada e com
filhos, mesmo na idade de 15 para 16 anos.
A
formação de seu pai permitiu que ele soubesse da importância da educação para o
desenvolvimento dos filhos. A força e incentivo positivo da mãe de Malala
também foram fatores importantes – pois dentro da cultura islamita daquele
contexto específico, o papel da mãe de Malala poderia ter sido o de
desestimular a filha em todos os assuntos voltados para a emancipação feminina
no que diz respeito à educação.
Depois do
atentado contra Malala, a família se mudou para a Inglaterra e ela está
estudando, construindo uma história diferente de muitas das mulheres de seu
país de nascimento construirão.
Elaine Cristina Senko e Natânia Silva Ferreira.
Sobre Elaine, peço aos leitores que evoquem o
texto “Um clube do livro em Marechal Cândido Rondon – relato de experiência”.
Já sobre Natânia, ela é doutoranda em História Econômica pela Unicamp, mestra
em História Econômica pela USP e graduada em Ciências Econômicas pela
UNIFAL-MG. Para conhecer suas pesquisas, recomendo:
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4496326H2Sobre Malala, evoco o discurso na ONU: https://www.youtube.com/watch?v=PLKpqajRruQ
Eis o clube do livro de Marechal Cândido Rondon. Alguma dúvida de que ler une as pessoas? Natânia é a primeira jovem à esquerda, sentada à mesa, e Elaine, a jovem de pé, mais alta.
Obrigado pela oportunidade de publicar no blog sobre tão importante tema! Beijos, Elaine :)
ResponderExcluirQuerida, eu agradeço a vocês por terem considerado o blog um canal importante para compartilhar impressões de leitura.
ResponderExcluirO blog é uma graça e, este clube do livro, rsrs, recomendo! Grata pelo espaço Marcela!
ResponderExcluirMuito obrigada, Fran!
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