Airton
Souza nasceu em Marabá, no Pará, em 23 de março de 1982. É um ano
mais novo que minha irmã caçula e por 3 dias não é do signo de peixes, igual à
minha mana. Poeta e professor, possui 27
livros publicados. A formação de Airton está entre a História e as Letras. É
licenciado em História, pós-graduado em Metodologia do Ensino de História,
licenciado em Letras – Língua portuguesa, pela UNIFESPA – Universidade Federal
do Sul e Sudeste do Pará e Mestrando em Literatura pela UNIFESSPA. É membro de
diversas academias de Letras e instituições literárias, entre elas a ALSSP –
Academia de Letras do Sul e Sudeste Paraense, cadeira nº 15, patrono o poeta
Max Martins. Possui uma intensa atividade voltada à promoção do livro e da leitura,
como a realização de saraus e encontros literários entre escritores e
leitores. Já venceu prêmios literários
importantes, entre os quais se destacam: menção honrosa no Prêmio Proex de
Literatura, Prêmio Cannon de Poesia, menção honrosa no Prêmio LiteraCidade, com
o livro Face dos disfarces, primeiro
lugar no Prêmio Dalcídio Jurandir de 2014, um dos mais importantes da Estado do
Pará, com o livro de poemas Ser não
sendo, um dos vencedores do IV Prêmio Proex de Arte e Cultura, com o livro
de poemas manhã cerzida, em 2015
venceu prêmios literários importantes, entres eles o III Prêmio de Literatura
da UFES, promovido pela Universidade Federal do Espírito Santo, com o livro de
poemas Cortejo & outras begônias
e o Prêmio Nacional Machado de Assis, promovido pelo Canal 6 Editora, de São
Paulo.
Airton é
casado com Leonice Souza e pai de Leonardo Souza. A imagem que escolhi para
esse post foi feita por Leonardo, que captou o pai em entrevista concedida ao grupo RBA, afiliada a Band, sobre a
fundação da Academia de Letras do Brasil e sua importância para a região do Sul
e Sudeste do Pará. Eu tenho particular afeição pelas imagens que minha filha
faz de mim... e como Airton me deixou escolher, acho que vai aprovar a minha
escolha!
LITERISTÓRIAS:
Airton, o que é a Barraca Literária?
Airton: Bem, a Barraca Literária nasceu como Tenda do
Escritor Marabaense, que visava integrar uma rede de autores de Marabá, para em
uma tenda nas praças públicas da cidade expor seus livros e, sobretudo,
promover a venda desses livros. A ideia não funcionou porque os autores não participaram
ativamente da Tenda. Desse projeto, surgiu então a ideia de criar a Barraca
Literária, que já vai completar dois anos em atividade. Trata-se de uma barraca
onde exponho todos os livros que publiquei para vender nas praças de Marabá aos
domingos e feriados. Apesar de cumprir uma função mais comercial, não deixa de
ser um espaço para mostrar a produção literária de mais de 16 anos de
publicações, que resultou hoje em mais de 26 livros publicados e diversas
antologias organizadas.
Existem
outros projetos que coordeno, entre eles está o Projeto Tocaiunas que é hoje o
maior projeto de literatura independente da Amazônia. Já conseguimos publicar
mais de 45 autores, com a tiragem dos livros que ultrapassou os 16 mil
exemplares. Livros que são comercializados a R$ 5 e que têm o formato bolso.
Tudo pensado para incentivar a produção literária e principalmente a leitura,
por meio do livro acessível, de baixo custo.
LITERISTÓRIAS:
Airton, fale um pouco sobre a poesia de Marabá. Existe uma poesia “de Marabá”?
Fale um pouco sobre o seu trabalho como organizador de antologias.
Airton: Na verdade o que estamos criando por aqui, por
meio de diversos projetos é um coletivo, que visa além de valorizar a produção
dos autores de Marabá, buscar mostrar que Marabá é um espaço onde existe
literatura. Nossa terra ficou muito conhecida pelo alto índice de violência,
principalmente na década de 80 em diante, devido aos fortes ciclos econômicos
existentes por aqui. Na década de 80, por exemplo, tínhamos em nossa geografia
a maior jazida de ouro a céu aberto do mundo, o Garimpo de Serra Pelada.
Se fôssemos
mapear a literatura marabaense e aferir quantos autores estão publicando, acho que
hoje estaríamos com certeza com um número que chegaria a ultrapassar cem, o que
é um número expressivo levando em consideração diversos aspectos, entre eles: as
condições culturais e econômicas, ou seja, grande parte das publicações é
independente, custeada pelos próprios autores, pois não há incentivo algum, por
se tratar de um espaço em que a violência ainda é muito latente, além de estarmos
em um espaço periférico do país e onde a leitura, por parte do poder público,
nem de longe parece ser prioridade.
Como organizador
de antologias, eu criei um projeto anual que denominamos de Anuário da Poesia
Paraense, que tenta publicar um grande número de poetas paraenses; a antologia
Mandala que é uma publicação nacional, aberta para poetas do país inteiro e
diversas antologias resultantes das oficinas que de vez em quando ministro em
escolas públicas da cidade de Marabá.
LITERISTÓRIAS:
Airton, você é um poeta premiado. Qual é a importância dos prêmios literários,
em geral, e para você, em particular?
Airton: Eu sempre procuro enxergar o lado bom dos
prêmios literários. Só para constar, antes de vencer um dos principais prêmios
de literatura do Estado do Pará, que é o Prêmio Dalcídio Jurandir, diversos
poetas nunca tinham falado comigo. Ao vencer o prêmio, até essa relação mudou.
Mas, para falar a verdade, eu encaro os prêmios literários por duas ópticas,
que são elas: resistência e oportunidade. Entendo sempre os prêmios literários
como o nosso espaço de resistir e existir e como uma grande oportunidade de
colocar nosso trabalho à prova de outros olhos e sentimentos.
Quando eu
chego a vencer um prêmio literário eu sempre coloco entre meu nome o de minha
terra. É sempre uma vitória minha, em particular, e de minha cidade, que acaba
também por ganhar uma notoriedade. Também os prêmios literários, às vezes me
fazem acreditar que somos capazes de algo. Não que seja para mim o essencial,
vencer prêmios, pois, por incrível que pareça, nunca me inscrevi em um prêmio
literário confiante de que seria vencedor, sempre penso no pior (muitos risos).
Mas eu
estou convicto de minha literatura. Gosto do que estou escrevendo nesse
momento. Por isso, nenhum prêmio literário me fará mudar o caminho ou me
motivará a escrever fora de minhas convicções literárias.
LITERISTÓRIAS:
Airton, você é um leitor voraz. Quais são os seus poetas?
Airton: Eu vivi uma história triste com a leitura. Uma
das mais tristes histórias que se possa imaginar. Só para ser ter uma ideia, no
tempo em que eu estudei, isso até o segundo grau, nem mesmo meus professores
tinham livros didáticos para trabalhar. Lembro que lá no ensino fundamental,
por exemplo, grande parte de meus professores tinha os assuntos escritos em
cadernos, tipo brochuras, e olha que nem sou tão velho assim. Mas, foram tempos
difíceis, em que meus pais não tinham a possibilidade de escolher entre comprar
ou não livros para nós. O que ganhavam trabalhando compravam milharinas para fazer
cuscuz para as jantas e café da manhã e carne, feijão, farrinha e arroz para o
almoço.
A minha
história com os livros e essa postura que me possibilitou a tornar-me um leitor
só seu deu perto de meus 30 anos de idade e, por isso agora o que faço com a
leitura é pelo menos tentar correr atrás do prejuízo pelos longos dias sem ter
a oportunidade de ler. Por isso mesmo, leio cerca de três a quatro livros de
uma vez. Eu reconheço que preciso correr atrás desse prejuízo. E, não só por
isso, mas principalmente porque a leitura hoje é um vício em minha vida.
Quando você
me pergunta quais são os meus poetas, eu preciso responder que são todos, assim
como são todos os romancistas, os contistas, os escritores de livros infantis,
o livro de um modo geral. Eu procuro tirar de minhas leituras coisas para os
dias de minha vida. Procuro aplicar o que leio em minha vivência no mundo. Na
leitura encontro as respostas de que necessito para viver.
LITERISTÓRIAS:
Airton, complete esse desafio: fazer poesia no Brasil é ...
Airton: Eu costumo dizer que a poesia se tornou, na
história da literatura brasileira, uma espécie de margem, isso em relação aos
demais gêneros. Já ouvi professores de língua portuguesa dizerem que não gostam
de ler poesias, pelo simples motivo de não entender nada. Acho que eles não
aprenderam a lição essencial para quem quer realmente ler poesia: não é no
sentido que está o segredo, mas no sentir. Até mesmo na repulsa ao ler qualquer
poema está a verdadeira chave do sentido da poesia.
Penso que
fazer poesia no país envolve uma questão tão complexa, porque quem escreve sabe
o quanto ela é essencial na/para a vida das pessoas. Essa complexidade de fazer
a poesia no Brasil envolve uma série de questões que não consigo explicar
exatamente. O certo é que a poesia sempre será feita por aqui, aconteça o que
acontecer. Isso sim, eu tenho certeza.
“(...)
atravessar
é sempre tragicômico
ainda mais quando
não se tem uma mão
a que segurar
para o gesto da ida” (pág. 33)
“(...)
lança-te sem medo
é preciso encorajar
tua pele para o desconhecido” (pág. 56)
“(...)
enrijecido sustenta passados
medita sobre o presente
tem pelo futuro
um pasmo assombroso
que alimenta o escuro
te inquieta muro
o mundo não arfa baldrames.” (pág. 61)
(Alguns de meus versos favoritos de
Cortejo & outras begônias,
vencedor do III Prêmio EDUFES de Literatura na categoria poesia. Esse prêmio me
deu muitas coisas, deu-me a possibilidade de publicar Menina com brinco de folha!, e uma dos mais significativos
presentes foi conhecer a obra de Airton Souza! Escolhi fragmentos e poucos,
pois não pedi ao poeta licença para publicar poemas inteiros).
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