Semana passada, foi divulgado o
documento preliminar da chamada Base
Comum da Formação Docente. Eu procurei bastante o texto no site do MEC (até
o dia 4/3, às 22:12) e não o encontrei. Achei o documento apenas no “blog do
Freitas”: http://avaliacaoeducacional.com/2016/03/01/documento-da-base-comum-da-formacao-docente-e-divulgado/ O primeiro
pedido que faço a quem me lê, e que tenha tido mais sucesso que eu, é que me
esclareça onde está o documento nos canais oficiais do Ministério da Educação.
Logo que o Prof. Luiz Carlos de
Freitas divulgou o texto, ele foi compartilhado por amigos em minha timeline. De saída, eu me surpreendi com
a simultaneidade do trabalho e divulgação de procedimentos que deveriam ser
consecutivos. Como assim? Em uma primeira etapa, trabalha-se intensamente a
BNCC (que ainda está em consulta pública!) e depois são pensadas habilidades e
competências dos professores para contemplá-la e ir além dela! Sim, trata-se de
Base, ou seja, a parte inferior de alguma coisa, suporte,
pé..., e eu me comprometo a formar professores para
superá-la todo dia, achando eu que ela tenha ficado bacana, ou achando que
naufragamos em nosso objetivo de promover a melhor BASE às crianças e jovens.
Em tempo, é importante esclarecer que a proposta declara o desejo de impactar
“os cursos de licenciatura em suas propostas formativas, especificamente no que
se refere à Didática, às Metodologias e às Práticas de Ensino.” (pág. 3).
Já na apresentação do documento,
chama a atenção que
Análises
diversas têm mostrado carências nos cursos formadores de professores oferecidos
pelas instituições de ensino superior no que se refere à formação dos
estudantes mais especificamente nas áreas da atuação pedagógica na educação
básica. (pág. 1)
Ou seja, todo o crescimento de
formação pedagógica nos currículos das licenciaturas têm resultado em carência
qualitativa. Faz pensar. Em meio à transcrição em larga escala de material
institucional já conhecido, o documento compreende entre seus propósitos uma
“dinamização” da formação dos professores desde o início das licenciaturas...
Na página 2, porém, sobrevém a
confirmação de que minha surpresa inicial não era infundada, afinal como os
princípios de uma Base cuja elaboração está em curso podem subsidiar outra
Base? Suportes fluidos com vocação de desmoronamento...
Qual é o objetivo dessa Base Comum da Formação Docente, em meio
às diferenças que compreendem o elenco das licenciaturas? “Sinalizar aspectos
relativos aos conhecimentos fundamentais para a construção de currículos
convergentes à formação de professores” (pág. 6). No ataque à distância entre
teoria e prática, o documento mais uma vez sinaliza o equívoco entre seu desejo
de uniformização e a realidade diversa do objeto.
Entre os pressupostos que ensejam a
proposta, apenas 2 pontos elevam a especificidade do elenco das licenciaturas:
5. a
formação profissional de professores implica garantir conhecimentos do contexto
em que vai atuar e das práticas relevantes nesse contexto; ter formação
científica em sua área de atuação, ter conhecimento da área disciplinar para o
ensino; e, ter formação humanista de maneira que possa tornar-se um formador de
cidadãos, com valores e ética;
8. para o
exercício do papel de professor na Educação Básica aponta-se a necessidade de
uma compreensão integrada no que se refere: aos conhecimentos acumulados e
considerados relevantes socialmente, aos conhecimentos a serem trabalhados, aos
meios para levar esse conhecimento às novas gerações, ao conhecimento sobre as
crianças e adolescentes, ao conhecimento sobre o contexto sociocultural em que
a escola se move, aos conhecimentos sobre a própria escola em sua inserção
social e sobre as redes escolares em sua arquitetura e particularidades
regionais.
As dimensões formativas dão
continuidade à diluição da especificidade. Acho que sobrou descrença na possibilidade
de a prática pedagógica ser indissociável dos saberes que estão em jogo, nas
aulas de Língua Portuguesa, História, Matemática..., e que essa especificidade
se manifesta na forma como tudo acontece em sala de aula! Não existe uma geral
atitude investigativa da pratica educacional (pressuposto 7, pág. 8), mas
atitudes que convergem ou que gritam sua diferença em projetos que não têm de
harmonizar as coisas na marra, mas elevar complementaridades, dissonâncias e até
limites! Existe uma maneira de olhar o mundo através da Matemática; de
compreendê-lo através da Língua e da História; de cuidar dele com a Geografia;
de nós, com as Ciências...
Eu discordo do sentido proposto por
meus colegas que elaboraram esse texto (quem são mesmo?): “Didática e das
Metodologias de Ensino, como áreas de conhecimento fundamentais para a
orientação das ações pedagógicas e a construção de perspectivas e práticas criativas”
(pág. 9). Minha discordância está no sentido dessa orientação. Quando o modo de
fazer as coisas precedeu o objetivo a que nos propomos? Nossas questões, nossos
objetivos, nossos recursos e limites nos ajudam a construir nossos métodos! Diante
de um problema, pensamos em formas de resolvê-lo. As formas não precedem os
desafios...
O segmento mais interessante do
documento preliminar é sem dúvida o dos “Aspectos relativos a aprendizagens
relevantes ao trabalho docente”. Mas, nesse item, é antecipado o papel da BNCC
(?!). Suportes fluidos...
O texto tem ao todo 15 páginas. É
minúsculo, portanto. Precisa de revisão de Língua Portuguesa em duas páginas.
Não tem assinatura da equipe que o elaborou. Será submetido à consulta pública?
Grandes são as incertezas nesse rascunho de ambições evidentes.
A base é certamente essencial, mas não é o todo. Não imitemos a canção, pois não pode ser engraçada uma casa sem teto, ou nada...
Obs 1) Tentando achar outro lugar em que o documento
teria sido publicado, achei um texto que revela o início do trabalho e as
expectativas de uma pessoa interessada no tema. Vale a pena uma visita ao “blog
da Helena”: http://formacaoprofessor.com/2015/10/12/mec-inicia-base-nacional-curricular-da-formacao/
Obs 2) Outro dia eu me ressenti da falta de
divulgação da metodologia de trabalho com as colaborações feitas na consulta
pública à BNCC e eis que achei elementos em:
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