segunda-feira, 21 de março de 2016

Sempre em movimento..., não reescrevi minha resenha da autobiografia de Oliver Sacks!

Eu gosto muito de caminhar, mas nem sempre foi assim. Eu me lembro, e escrevi uma história sobre isso, que odiava ir à feira com minha avó Geninha, porque para minhas pernas minúsculas aquilo era percorrer a rota da seda, desprovida da condição de liberdade. A avó adulta, eu pequena, puxada pela mão. Mas ela não queria nem saber e ia distribuindo bons dias e comprando laranjas para meu suco. O fato é que, lá no céu das avós, ela deve estar feliz, pois virei uma andarilha e gosto muito de feira!
Tudo começou quando a filha nasceu. Minhas costas travaram. Os médicos disseram que tinha sido o colo que decidi lhe dar a vida toda. Há 7 anos, o corpo não estava costumado e sentiu. Durante a gestação, o joelho esquerdo, em uma casa cheia de escadas; depois de ver seus olhos, costas e costas... Encarei que precisava me mover mais, só que não dava para deixar a filha e me encaixar em aparelhos de ginástica por aí; não dava para voltar ao yôga; também não dava para contratar um personal... Que fiz eu? Comprei uma esteira! Só que eu odiava esteira. Logo descobri, porém, que eu podia tentar gostar, fazer um esforço para o meu bem. Coloquei um tapetão com brinquedos ao lado da esteira e fiz novas viagens pela rota da seda, ao lado da filha que dava os primeiros passos. A esteira nunca virou cabide; a esteira já se pagou muitas vezes. Eu cuido dela e ela de mim.
Com o passar do tempo, com a independência cada vez maior da filha (ai, meu Deus!), o sol me convidou aos passeios pelo bairro. A esteira nem chega a sofrer, afinal eu moro em Curitiba, ou seja, o sol... Mas ele também existe e eu vou. Vou só? Vou com meus pensamentos. Podem crer que vou com uma legião.
As caminhadas são quase diárias: cinco vezes por semana, uns 40 minutos, pouco mais de 3 Km. Tranquilo. Uma vez por semana, encaro um trajeto de 1 hora, que eu vou construindo mentalmente nos outros dias. Com meu MP4, músicas em volume bem mais baixo que quando estou na esteira (é por causa do filme A delicadeza do amor...), eu vou por aí. Para esse trajeto de 1 hora, meu próprio “longão”, eu me inspirei na prática da amiga Lígia Mara Coimbra, blogueira do “Mães comadres” (http://maescomadres.com.br/), a pessoa que para mim cunhou o termo “longão”. Não gasto um centavo. Nunca acreditei na desculpa dos outros, de não fazem atividade física porque estão sem dinheiro.
Eu descobri que andar organiza meus pensamentos e passei até a colocar um papelzinho e um lápis na pochete. Sim, vou de pochete... Andar também lubrifica meus olhos. Eu vejo melhor dentro e fora de mim. Eu dou bom dia às pessoas e elas respondem (a maioria rsrsrs); eu pego lixo dos outros e coloco na lixeira; eu brinco com cachorros e sou cortejada pelas borboletas; eu descubro pequenos comércios; entro e faço pesquisa de campo. Paro nas academias ao ar livre para remar por rios invisíveis e me penduro para alongar, pensando em cipós que saem de árvores poderosas. Eu penso nas pessoas que estão longe, com quem adoraria caminhar!
Às vezes, quando eu conto sobre esse prazer de desbravar o conhecido, sempre diverso para mim, as pessoas lamentam eu não ter conseguido voltar até hoje para o yôga de que eu tanto gostava... Elas me ouviram? Eu não lamento, eu respeito o tempo, ele é um senhor poderoso. Eu acho que caminhar pelo meu bairro tem muito de aventura selvagem e, para provar que não tomei tanto sol assim na moleira, fiz duas fotos que vão abaixo, no meu último longão.
Reconheço outros andarilhos de bairro em minhas travessias. Eu saúdo sua coragem. Inclinamos a nossa majestade. O movimento que me faz dar bom dia a desconhecidos, pegar lixo dos outros, brincar com os cães, flertar com borboletas, descobrir empórios e me fingir de Marco Polo me lembra de que há vida fora do escritório, das minhas salas de aula, do gabinete, das minhas ideias preconcebidas... A mulher que vai pela rua é só alguém em legging, pochete, MP4, chapéu de palha e um sorriso. Hiii, eu não tinha mencionado o chapéu!

Eu vou aos parques também e caminho ao lado de gente que não conheço, ora compartilho uma direção, ora vou na contramão. Em meu país, hoje, as ruas e avenidas estão ocupadas por ideias, agendas, cores e ritmos diversos. Em dias diferentes, gente desconhecida e da mesma família caminha como irmão. É uma espécie de rodízio, só não queria que fosse para a razão! Confesso que essa rima saiu assim sem pensar, como quem diz até logo, gente de casa, que eu vou por aí (eu sei que você queria que eu escrevesse caminhar, mas...) e já volto!



Na foto em que se vê um singelo Orelhão, foi a construção do mercado Condor que causou esse caos na calçada. Espero que o Condor conserte tudo depois. Na outra foto, com a plaquinha amarela ao fundo, o matagal não é culpa do Condor.

4 comentários:

  1. Minha irmã gêmea de caminhadas, eu tbm tenho um caso de amor com o céu azul. Toda vez que ele se mostra eu tenho um desejo enorme de sair andando por aí. Mas.... como moro perto do Centro, me cansa esse vai e vem de carros. Minha carioquice sempre grita ... "como é muito melhor andar na areia fofa da barra da Tijuca...." :D

    ResponderExcluir
  2. Lindo texto. Caminhar tem suas filosofias. Você já sabe. E pratica. Faço o mesmo aqui, sobre as novas paisagens.

    ResponderExcluir