Conheci Paul Mason como o Fashion
Santa. Não, não estive
no Canadá participando de uma de suas campanhas bem sucedidas de arrecadação de
fundos para hospitais e fundações. Não tirei uma foto com ele (espero fazê-lo
um dia!), consciente de que a única coisa que ele vai me pedir é que nosso encontro
seja mais que “tirar uma foto com uma celebridade”. Há uns poucos anos, vi uma
imagem de Paul, em um terno vermelho, e isso foi um júbilo para meu sentido da
visão.
Paul
Mason é um homem de 53 anos. É um homem lindo; modelo profissional de sucesso,
com mais de 30 anos de carreira. Há três anos ele perdeu a mãe e não teve
pressa de seguir adiante. Viveu seu luto e, sem se preocupar com quantos
empregos haveria de perder, deixou a barba crescer. Por que perder empregos?
Porque Paul já havia chegado aos 50 em uma carreira que aposenta cedo e, ao
desprezar o barbeador, era óbvio que haveria de ostentar no rosto a passagem do
tempo. Paul tem uma linda e longa barba branca.
Eu
não sei bem como é essa relação dos homens com a sua barba. Sei que o Luiz,
quando está em férias, quando nem quer se olhar no espelho, deixa a barba
crescer. Por outro lado, sei que a barba tem sido cultivada por homens que se
demoram em frente ao espelho. Acho que
não há uma regra, há a relação individual. Não perguntei ao Paul por que ele
entregou seu rosto ao tempo, no momento da sua dor. Pelo que li em entrevistas
que concedeu, muita gente estranhou a barba. Não sei bem se estranharam ou se temeram
por ele; se temeram pelo seu futuro profissional.
Pois
não é que a barba branca de Paul atraiu um monte de gente para perto dele?! Há
dois anos, o Natal chegou e Paul percebeu que poderia usar a sua fama e o seu
novo eu para ajudar as pessoas. Nasceria o Fashion
Santa e Paul fez ainda mais sucesso! O Natal passou e a barba permaneceu.
Paul desfilou por muitas passarelas com ela. Esteve no Brasil para alegria de
muita gente. Não minha, porque Paul preferiu o Rio a Curitiba... Tudo bem,
Paul, eu te perdoo.
Este
ano, Paul Mason levou um susto. Um dos espaços em que por dois anos os fãs que
o adoram tiravam fotos com ele e colaboravam nos projetos sociais sugeridos por
ele, achou por bem “escolher” outro Fashion
Santa: um modelo de uns 30 anos, acho que com barba e cabelo postiços. Não
retive seu nome. Compreendo, porém, que está fazendo seu trabalho, foi
contratado para isso. A indignação dos fãs do Paul foi com o “sequestro” do
nome e a contratação de alguém para desempenhar o “personagem”.
Eu
li entrevistas dos representantes do espaço de comércio e me abismei com a sua
cobiça (sim, ainda me abismo, mesmo estando no Brasil! Talvez até Paul ache
isso incrível). Eu me abismei com a declaração dos advogados que representam os
interesses comerciais desse espaço, de que são donos da “marca” Fashion Santa e cheguei até a visualizar
o Papai Noel preso em contratos... Fiquei a pensar nos homens que deixam suas
barbas crescerem aqui em meu país e que tiram um trocado nas épocas de Natal,
abafados em roupas quentes, em shoppings em que o ar condicionado ou não
refresca direito ou deixa nossos olhos irritados, por falta de manutenção.
Tenho fotos deles na minha geladeira, abraçados à minha filha sorridente. Uma
das coisas que mais me emociona em Paul é que ele redime o esforço desses
homens, chamando a atenção para o fato de serem todos homens com história e
beleza estampadas no rosto.
Eu
me tornei fã de Paul Mason e li algumas das entrevistas que concedeu em
diversos meios, com a sua versão dos fatos. Peço aos meus leitores que o façam
também e tirem livremente as suas conclusões. Meu texto não é sobre batalhas judiciais,
embora eu tivesse de referi-las, pois elas chocaram os fãs este ano e imagino
que fizeram Paul sofrer. Mas ele é corajoso. Este mês já esteve nos Estados
Unidos para participar de mais uma campanha social, desta vez para o Human Rescue Alliance[1]
e foi recebido como se deve[2]!
Estava de vermelho... Pois bem!
No
Brasil, o governo propôs novas regras para a previdência social e eu gostaria
de deixar claro que meu texto não é propaganda da proposta. Paul conhece o
nosso país e duvido que ache que sua longevidade na carreira seja comparável ao
contexto em que vivemos. Na indústria em que ele ganha a vida, a sua
longevidade é ousadia decerto; no dia-a-dia do brasileiro que começou a
trabalhar com 14 ou 16 anos (e nem preciso recuar tanto, ora!, pois todos
seremos abatidos), o tempo de nossa contribuição será o Tempo grego, devorador
dos filhos, sem a possibilidade de haver uma Reia[3]
salvadora... Há imensas diferenças entre o Canadá de Paul e o nosso Brasil e
estou convencida de que as diferenças institucionais, políticas e econômicas
favorecem a longevidade da carreira dele e do seu prazer em dedicar-se a ela.
Dedicação como uma possibilidade e um direito, não como constrangimento, como
sequestro da vida. Eis a diferença.
Já
tão próxima ao Natal, com árvore montada, luzinhas pela casa em ano péssimo...,
mas com a exigência clara da filha, meu otimismo saltitante e obstinado, esse
texto expressa a minha admiração pessoal por um homem que não teve vergonha de
chorar a mãe; que se entregou ao luto; que enfrentou a dor; que não temeu o
tempo; que é corajoso por tudo isso e ainda por cima é lindo de viver! Um homem
que não é parâmetro também e que não deve ser “usado” para propagandear o
trabalho até a morte.
Nunca
apertei a mão desse Papai Noel canadense, mas um dia vou passar uma temporada
no Canadá e dar-lhe um estalado beijo na bochecha! Até lá é possível que minha
mecha branca acima do lado esquerdo da testa esteja mais vasta. Acho que Paul
vai me achar bonita... É um segredo nosso o fato de termos um amor em comum.
Levei
mais tempo para escolher uma foto de Paul Mason que para escrever esse texto...
creioemdeuspai! Como falei muito do tempo estampado no seu rosto, optei por
essa e não pelas clássicas com terninho vermelho ou quadriculado.
[3] A Terra, que conseguiu salvar alguns de seus
filhos tidos com o Tempo, Cronos. Um dos quais seria justamente Júpiter.
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