Esta semana
participei de um congresso em homenagem ao centenário da Professora Cleonice Berardinelli
e da Revista Orpheu. Que felicidade reunir
efemérides assim! O congresso começou no Palácio São Clemente,
passou pela ABL (afinal, D. Cleo é imortal), pela Fundação Casa de Rui Barbosa
e terminou na casa que foi sua por tantos anos, onde foi minha professora, a
Faculdade de Letras da UFRJ, na Ilha do Fundão.
Para mim,
foi a maravilhosa ocasião de matar as saudades dos meus professores (e na
semana do nosso dia!): a própria D. Cléo, Teresa Cerdeira, Marta de Senna, Helder
Macedo, Jorge Fernandes da Silveira, Luci Ruas...; rever amigos, Mônica Fiqueiredo,
Jorge Valentim, Sofia de Sousa Silva...; conhecer a ABL (pasmem, nunca tinha
entrado lá!), passear pelos jardins de Rui Barbosa depois do almoço, matar as
saudades dos corredores da minha faculdade – esse lugar em que entrei menina acanhada
e saí a jovem corajosa, com as armas de Quixote... rsrs. Eu tenho tanta
gratidão que nem se eu falasse a língua dos anjos!
Voltar a
Casa, esse lugar de proteção... Não que eu me sentisse sempre segura, depois de
certa hora no Fundão, cá entre nós. Ontem, quando vi policiamento em frente à
minha faculdade, quase não acreditei. Quando saí do metrô e entrei em ônibus
que me deixou na porta da Faculdade, quase chorei!
Mas entre
os abraços apertados, o afeto dispensado pelo poeta Melo de Castro, depois de
minha fala na ABL, aprender mais! Voltei com a minha caderneta azul repleta de
observações, como: “ler urgente” tais livros; “procurar urgente” certo poeta, “nunca
tinha pensado”, “ler outra vez esse texto, pois não percebi isso”... Aprender. Como
eu amo aprender coisas novas! Há uma coisa irresistível, perigosa, deliciosa em
querer ultrapassar o não sabido, vivenciar novas fruições. Aprender é muito
sensual.
Vivemos um
desinteresse geral pelos colóquios e suas publicações. Vivemos a elevação do
modelo monástico sem ascese... Cada um consigo mesmo no escritório, sem papo com
qualquer pessoa, a escolher as revistas mais qualificadas para publicar textos
rápidos, mais provisórios que a própria dinâmica do conhecimento que se
transforma e refaz... Mas, como saí jovem mulher quixotesca e rebelde daquele
Fundão, não vejo a hora de agarrar a publicação resultante de um encontro de
gigantes para celebrar a vida da nossa Cleo imortal. Reler aquele texto do
Helder sobre o poema de Camões que eu já tinha lido tantas vezes, que só um
grande professor para mostrar que eu não tinha lido direito. Leonor, toda a vez
que você for à fonte, eu vou contigo certa de que a gente não corre risco
algum, apesar de “não segura(s)”[1]!...
Minha querida Marta de Senna
Mesa com Jorge da Silveira, Sofia Silva e Ida Alves, apresentada por Teresa
Marta e eu: muito amor!
Que mesa!!!!!!!!!!
A legenda é desnecessária... Quase 20 anos de admiração!
Que mesa!!!!!
[1] Poema do Camões:
Descalça vai pera a fonte
Lianor pela verdura,
Vai fermosa e não segura.
Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata.
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamalote,
Traz a vasquinha de cote
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa, e não segura.
Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entraçado,
Fita de cor encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa, e não segura.
Lianor pela verdura,
Vai fermosa e não segura.
Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata.
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamalote,
Traz a vasquinha de cote
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa, e não segura.
Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entraçado,
Fita de cor encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa, e não segura.
Obrigada, minha querida Marcela. Você foi um dos pontos altos dessa bela homenagem
ResponderExcluirUm beijo, minha amada Teresa!
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