sábado, 17 de outubro de 2015

Há 100 anos Orpheu canta para Cleonice - relato sobre um grande congresso

Esta semana participei de um congresso em homenagem ao centenário da Professora Cleonice Berardinelli e da Revista Orpheu. Que felicidade reunir efemérides assim! O congresso começou no Palácio São Clemente, passou pela ABL (afinal, D. Cleo é imortal), pela Fundação Casa de Rui Barbosa e terminou na casa que foi sua por tantos anos, onde foi minha professora, a Faculdade de Letras da UFRJ, na Ilha do Fundão.
Para mim, foi a maravilhosa ocasião de matar as saudades dos meus professores (e na semana do nosso dia!): a própria D. Cléo, Teresa Cerdeira, Marta de Senna, Helder Macedo, Jorge Fernandes da Silveira, Luci Ruas...; rever amigos, Mônica Fiqueiredo, Jorge Valentim, Sofia de Sousa Silva...; conhecer a ABL (pasmem, nunca tinha entrado lá!), passear pelos jardins de Rui Barbosa depois do almoço, matar as saudades dos corredores da minha faculdade – esse lugar em que entrei menina acanhada e saí a jovem corajosa, com as armas de Quixote... rsrs. Eu tenho tanta gratidão que nem se eu falasse a língua dos anjos!
Voltar a Casa, esse lugar de proteção... Não que eu me sentisse sempre segura, depois de certa hora no Fundão, cá entre nós. Ontem, quando vi policiamento em frente à minha faculdade, quase não acreditei. Quando saí do metrô e entrei em ônibus que me deixou na porta da Faculdade, quase chorei!
Mas entre os abraços apertados, o afeto dispensado pelo poeta Melo de Castro, depois de minha fala na ABL, aprender mais! Voltei com a minha caderneta azul repleta de observações, como: “ler urgente” tais livros; “procurar urgente” certo poeta, “nunca tinha pensado”, “ler outra vez esse texto, pois não percebi isso”... Aprender. Como eu amo aprender coisas novas! Há uma coisa irresistível, perigosa, deliciosa em querer ultrapassar o não sabido, vivenciar novas fruições. Aprender é muito sensual.
Vivemos um desinteresse geral pelos colóquios e suas publicações. Vivemos a elevação do modelo monástico sem ascese... Cada um consigo mesmo no escritório, sem papo com qualquer pessoa, a escolher as revistas mais qualificadas para publicar textos rápidos, mais provisórios que a própria dinâmica do conhecimento que se transforma e refaz... Mas, como saí jovem mulher quixotesca e rebelde daquele Fundão, não vejo a hora de agarrar a publicação resultante de um encontro de gigantes para celebrar a vida da nossa Cleo imortal. Reler aquele texto do Helder sobre o poema de Camões que eu já tinha lido tantas vezes, que só um grande professor para mostrar que eu não tinha lido direito. Leonor, toda a vez que você for à fonte, eu vou contigo certa de que a gente não corre risco algum, apesar de “não segura(s)”[1]!...  


Minha querida Marta de Senna


Mesa com Jorge da Silveira, Sofia Silva e Ida Alves, apresentada por Teresa


Marta e eu: muito amor!


Que mesa!!!!!!!!!!


A legenda é desnecessária... Quase 20 anos de admiração!


Que mesa!!!!!





[1] Poema do Camões:
Descalça vai pera a fonte
Lianor pela verdura,
Vai fermosa e não segura.

Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata.
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamalote,
Traz a vasquinha de cote
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa, e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entraçado,
Fita de cor encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa, e não segura.

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