segunda-feira, 8 de agosto de 2016

A primeira resenha do romance Menina com brinco de folha

Prólogo:
Outro dia, recebi por e-mail uma leitura muito afetiva do meu livro Menina com brinco de folha. Pedi à autora do texto para publicar aqui no blog. Ela deixou!

Menina com brinco de folha

     Engana-se quem pensa que folhas caem! Elas deslizam no ar buscando um repouso, ora perdido já que a árvore as libertou. As folhas podem se acomodar no chão e, então, serem contempladas pelos que admiram suas mudanças de tons, ou pisoteadas pelas crianças que se divertem com os ruídos das folhas secas, que soltam gar-galhadas. Às vezes, porém, são varridas, sem graça nenhuma. Outras folhas, também, podem virar livros, brincos e coleção. E foram essas que deslizaram sob meus olhos quando li Menina com brinco de folha, de Marcella Lopes Guimarães.
     O livro me conquistou criança. Criança que tem curiosidade sobre as pessoas, sobre as palavras, sobre as formas. Criança que descobre o que é a saudade, o que é a perda, o que é a leitura. E é nessa dança entre curiosidade e descoberta que o personagem menino – cujo nome a autora deixa a cargo do leitor, o qual, distraidamente, nem sente sua falta e, em um primeiro momento, pode considerar qualquer menino, mas diante do “o” consegue enxergá-lo como o personagem do livro sem perdê-lo narrativa adentro – encontra nas folhas o caminho da amizade e, consequentemente, da saudade da menina – também sem nome, mas com a propriedade “com brinco de folha” que a destaca como a amiga especial, dentre os colegas do menino.                                                                                                 
     Também me conquistou adulta. Adulta que, por vezes, busca o ponto de vista da criança para lembrar-se de suas memórias. As reflexões do menino sobre a perda e a saudade, embaladas na voz do narrador, são para nós um acalanto. Compreendemos muito bem o que é voltar a ser menina, após um abraço de vó. Lembramo-nos do que é ficar triste quando chegam as férias – algo que hoje, para nós, é um alívio esperado. Voltamos a prestar atenção em coisas que, por vezes, nós varremos, sem graça nenhuma. Enfim, por isso, Menina com brinco de folha também é um livro para adultos, uma vez que nos provoca a ver o mundo de outra forma, aquela que deixou um rastro que guardamos e, às vezes, esquecemos e precisa ser recuperado com um livro.
     Entretanto, sobretudo, o livro me encantou linguista. A autora brinca com a descoberta dos significados das palavras pelas crianças. Mas não só com essa descoberta como também com a capacidade das crianças as ressignificarem. Basta observar o que o menino faz com a inspiração e com a ciência (não contarei aqui para não interferir na leitura). Em alguns momentos, o jogo com as palavras vira estratégia de retomada de referentes destacados da história e, dessa forma, de condução da narrativa. E é isso que destaca a obra, entre outras produzidas para crianças. Marcella não segue a tendência de adaptar a linguagem para “ensinar” a criança-leitora, mas sim busca diferentes formas para provocá-la, em outras palavras, para mostrar à criança do que a linguagem é capaz e o que nós, falantes, somos capazes de fazer com a linguagem.
     Menina com brinco de folha é o primeiro livro infantil publicado pela autora. Embora já tenha publicado tantos outros, é com este que Marcella acrescenta ao conjunto de sua obra, que lhe faz historiadora, medievalista, crítica literária, professora, contista (esqueci algum?), a graça da mãe e da menina – que recebeu o prêmio da editora EDUFES com o mesmo entusiasmo e surpresa que o menino, quando encontrou a menina na praia durante as férias.
     E é com esses encantos que, no livro, Marcella trata da amizade, do amor, da história, do futuro, do tempo. Ops! Já li isso em algum lugar... No Diálogo sobre o tempo, a autora debate sobre esses temas, enquanto aqui ela os coloca numa narrativa infantil. E (provocando-te, Marcella), embora o livro anterior tenha sido um diálogo, Menina com brinco de folha está mais vivo! Depois dessa, vocês podem pensar que conheço Marcella de perto. Engano. A conheço de verbo (ou de inspiração). Logo, recomendo: a leitura das duas obras. São pontos de vistas diferentes, sensações diferentes, sobre os temas mencionados. Nesse sentido, não me admiraria encontrar o livro da menina, que leitores criteriosos premiaram como livro infantil, numa prateleira de livros para adultos. Ou sem classificação alguma. Afinal, o tempo e as folhas pairam e repousam sobre todas as idades.
Denise Mazocco


Epílogo:
Quem é Denise Mazocco?
Denise Miotto Mazocco é formada em Letras (PUCPR) e em História (UFPR); é Mestra em Letras (UFPR) e faz Doutorado na mesma área (UFPR). Foi minha aluna na UFPR, brilhante aluna! É já uma contista de mão cheia e toca o blog prosadomingueira, em que compartilha mostras do seu talento: https://prosadomingueira.wordpress.com/
Participa do clube do livro, consagrado à leitura de Em busca do tempo perdido de Marcel Proust, e atua como Professora de Língua Portuguesa na UTFPR.


Ainda não fizemos o lançamento do livro em Curitiba... Mas quem não puder esperar rsrsrsrs, pode adquirir o livro pelo site da editora (como Denise Mazocco fez!): http://www.edufes.ufes.br/items/show/382

Denise Mazocco sendo menina com brinco de folha... 

2 comentários:

  1. Sobre o livro, Menina com brinco de folha,é avivar a memória como quando se ouve um disco na vitrola ou se vê fotos-filmes em preto e branco, dando nossos nomes aos personagens e até nossa história, com tocante sensibilidade. E Denise é um dos maiores amores da minha vida. A autora é mais uma estrela brilhante, iluminando o caminhar de Denise. Grata pela oportunidade desta leitura, carinhosamente Deise Miotto Mazocco.

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  2. Querida Deise, muito obrigada por sua leitura do romance e por seu depoimento aqui! Um beijo!

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