Passou o dia limpando o rastro de
vida espalhado pela casa. Catou sapato e brinquedo; achou meia solteira no
corredor; descartou papelzinho com número velho de telefone. Deu um encontrão
no marido; desviou-se dele na entrada do quarto; desistiu de entrar na cozinha,
repleta da sua presença. Quando não dava mais para se afastar daquela existência
obsessiva por todos os cantos em que tinha necessidade de transitar, deixou
escapar da boca nervosa uma acusação: - Está
me perseguindo? Ouviu: - Estou e todo
dia.
Não teve medo do encontrão,
tomou-lhe o rosto sem desvio e depositou um beijo repleto da necessidade de obrigada por não perder o meu rastro.
PS.: A imagem é de Rubens Gerchman. Sobre a sua obra, conferir: http://www.institutorubensgerchman.org.br/index.html
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