Levei muito tempo para ter coragem
de escrever as histórias que eu contava para mim mesma. Encontrei o caminho na
confiança de algumas pessoas e na sintonia emocional que certos elementos das
minhas narrativas tinham e têm comigo. Dou um exemplo: no fim de janeiro de
2015, eu abandonei uma história, porque perdi a energia da minha protagonista.
Se vou voltar? Talvez. Eu já perdi gente para sempre, mesmo em vida; já
reencontrei pessoas que julgava perdidas; por que seria diferente com as personagens?
Talvez o medo de perder seja a causa de eu escrever tão rápido, como dizem. Não é talento, portanto, é medo.
Terminei 2015 com uma história na
cabeça. Ela começou como costumam começar as minhas narrativas: eu sabia
exatamente onde queria chegar. Foi assim com o meu romance Menina com brinco de folha, vencedor do III Prêmio UFES de
Literatura, na categoria infantil. Tão logo o menino e a menina se fizeram
presentes, a última frase surgiu. Meu trabalho foi levar os personagens até lá.
Saudei essa nova epifania, como
sinal de boa sorte, porque geralmente os Réveillons trazem um conjunto de
sentimentos positivos e boas energias que infelizmente a gente vai perdendo ou
de que cansando... Eu li o cansaço de 2015, escrito por muitos de meus amigos
nas redes sociais.
Escrevi 9 páginas da história nascida
logo ali e não deixei escapar aquele final da epifania. Era a história de um
objeto que viajava nas mãos de uma criança intrépida.
Mas de repente a vida me apartou
daquela solução e eu decidi que a narrativa devia acompanhar a vida. Escritores
muito melhores do que eu que passarem por acaso por aqui vão dizer que essa
decisão é prova da fraqueza da minha literatura. Eu daria um beijo nesse
descobridor dos 7 mares! Quando a fraqueza mora no texto, a gente sempre pode
fechar o caderno ou desenhar nas folhas que restam; pode desligar o computador
e economizar na conta da luz; pode levantar e ir comprar um picolé na padaria
da esquina e não ter vergonha de voltar para casa com bigode de uva... Quando a
fraqueza não é de papel, o bigode é um daqueles bigodes de carnaval: o suor de
verdade não deixa colar o artifício.
Eu resolvi destruir os originais em
respeito à protagonista. Espero que um dia o objeto da sua intrépida viagem encontre
o final que um dia escrevi a lápis, mas que destruí com minhas mãos de matar. Tenho
a impressão de que a memória vai vingar esse gesto de morte e cravar o destino
abandonado no meu coração.
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