domingo, 22 de maio de 2022

Cartão de felicitações pelo casamento - Lula e Janja

 

Lula e Janja,

 

parabéns pelo casamento esta semana. Lembro-me de quando Lula foi libertado e do beijo dado naquela que era então a sua namorada. “Você já beijou hoje?”, “O Lula já beijou!”, todo mundo brincava pelas redes sociais. Hoje eu vou tomar um porre, não me socorre... Desculpe o vocabulário, casal, é verso de samba.

Lula, você estava lindo. Janja, não fica com ciúmes. Adorei o seu vestido. Não vou perguntar quem fez, indiscrição..., mas você sabia que eu ganhei um vestido?! E de um dos maiores designers de moda desse país! Pessoa que admiro, com quem tenho mil afinidades delicadas. Phinah eu.

Lula, aos 76 anos, subir ao altar, depois de enfrentar os processos, de cumprir pena, cadeia, de perder a companheira de uma vida...; dar-se a chance de continuar vivo, surpreender-se com o amor florindo no peito... é coisa que desabotoa o meu! Você sabe, sou romântica incurável e nem digo que foi cisquinho que entrou no olho. Não preciso de desculpa. Janja, desposar o Lula é desposar um homem de muitas camadas, não é? Imagino que você ame todas elas e fico contente em saber que você é uma mulher madura. É experiente para lidar com toda a informação que passa pelo seu homem, atrás dele, dentro dele, à frente, em torno dele... Estou falando assim, dele, porque sei pouco de você (ainda). Mas uma coisa acho evidente: você é corajosa.

Ninguém falou dos 21 anos de diferença, eu notei. Como sabemos, se o homem é mais velho, qualquer diferença se dilui no romantismo. Quer ver o romantismo calar? Se Janja tivesse 76 e você, Lula, 55, talvez te comparassem a Emmanuel Macron, que, por sinal, acabou de ganhar de novo... Auspícios. Lembra do desrespeito do energúmeno presidencial contra Brigitte? Ele, cuja diferença se diluiu na subalternidade reivindicada da primeira dama de joelho esfolado e salto agulha. Se Janja tivesse 76, talvez te comparassem. Só que Macron ia vencer de novo. Se Janja fosse Jorge, você ia ouvir os gritos do templo de Salomão até o palácio do Planalto! Casava, mesmo assim, Marcella. Mas quer ver todos os templos de Salomão incomodarem a órbita companheira da doce Lua? Se Lula fosse Carolina! Por que Carolina? Acho bonito. Janja 76, Carolina, 55. Vou melhor para você, Carolina, vou te dar 4 anos, 60 anos! Que tal? Talvez você escutasse sussurros de gente insuspeita, “convicta”, dos “coerentes”, dos vanguardistas. Bizarras sintonias com o templo de Salomão. Casava! Lula, ou melhor, Carolina, eita, agora sou eu que tô me confundindo... É melhor a gente parar com as imaginações, deixar a doce Lua em paz, e voltar às realidades, né?!

Eu estou feliz com o enlace de vocês e acho que ele veio a calhar. Veio a calhar como reserva de força e sentido. Nada melhor do que começar a virar o jogo com o amor, amor como beijo na boca e também como compreendeu Humberto Maturana: o emocionar que constitui o outro como legítimo outro em coexistência[1]. A gente tem vivido anos de ódio e eu não estou falando da divisão do país, eu estou falando de ódio institucionalizado, berrado, exaltado, motivo de orgulho, como política oficial direto do Planalto! Ódio às mulheres que não se curvam; ódio aos negros e às lutas por sua dignidade e afirmação histórica; ódio aos indígenas espoliados desde o corpo das mulheres até as terras ancestrais reivindicadas; ódio aos que rezam diferente dos tons de cinza do integrismo e aos que não rezam, aos que pensam, leem, cantam, dançam, representam, estudam, amam as Carolinas e os Jorges, os Lulas e as Janjas. Ódio aos rios, às matas e aos bichos. Bala neles e nelas, em nome de... Jesus??!!

Lula, seu casamento me emociona porque eleva o tom da conversa, de fato muito baixa, que grassa entre nós. É uma afirmação pública do amor para esfregar na cara suja de quem troca verba pública da educação por adesão de igreja, em nome de Jesus(!); de quem pisoteia na cara dos profissionais de carreira qualificados para entregar monitoramento da Amazônia para gringo rico. Desculpa, multimilionário. Bilio? Quem deixou? Por onde passou a autorização para uma tarefa dessa proporção? Conexão entre escolas? Internet do gringo? Lula, desculpa, eu tenho um aluno do Amazonas e eu levo o computador da minha filha para a sala de aula para conseguir chamá-lo. Afirmação que esfrega na cara suja de quem ofende, desrespeita as instituições, os corpos, ameaça e promete golpes. Mais?

Um dia bem recente, um dia triste à beça, o Brasil se viu em uma encruzilhada: de um lado, o caminho da homenagem a um criminoso; de outro, a necessidade de responsabilizar a fala que exaltava o crime, empregando os meios jurídicos disponíveis. Naquele dia, o Brasil virou na contramão e estamos aqui.

Lula, O Macron – 25 anos mais novo que Brigitte – ganhou de novo lá. A França tem agora uma primeira ministra, você viu? Achei auspicioso. Você beijou, você casou! Eu estou com um punhado de arroz aqui para jogar. Vestido novo. Só falta... 

Falta pouco. Falta muito. Mas você beijou! Você casou! Vocês! Lula, você estava tão bonito de azul... Janja, adorei o branco, adorei o decote. Você estava deslumbrante. E D. Angélico, heim?! Parabéns!

Bom primeiro domingo da vida nova!

Vida nova.

Força, paciência e amor.

#lulaejanja

#casamentolula

#casamentolulaejanja

 

PS. Alguém me fala ao pé do ouvido que o presidente da república do integrismo nacional veio participar da Marcha para Jesus.

Jesus não foi visto.

[1] MATURANA, Humberto, VERDEN-ZÖLLER, Gerda. Amar e brincar: fundamentos esquecidos do humano do patriarcado à democracia. São Paulo: Palas Athena, 2004. P. 45.


Foto de Maria Clara Guimarães Prado
(Origami da fotógrafa também)



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