“Há algo que você sempre
pode dizer às pessoas que querem aprender mais sobre o mundo e não sabem como
achar uma causa para apoiar. Você sempre pode mandar que elas leiam” (Clube do livro do fim da vida).
No último setembro arrancado da
folhinha, eu fiz uma chamada para a constituição de um CLUBE DO LIVRO. A ideia
não nasceu de uma inspiração particular. Eu tinha lido, em 2013, o Clube do Livro do fim da vida de Will
Schwalbe, sugestão de uma grande leitora e que rendeu muito em minha própria
vida. Vi aquele filme fofo Clube de
leitura de Jane Austen (eu adoro Persuasão
e Orgulho e Preconceito, nessa
ordem...), de 2007. Depois de tudo, eu ainda ministrei uma disciplina na Pós sobre
A memória, a história e o esquecimento
de Paul Ricoeur, que funcionou como um clube do livro. Em uma das aulas, eu
disse que tinha vontade de me livrar da grande vergonha de não ter lido alguns
livros importantes, incríveis, e que, por várias razões, ficaram para trás.
Descobri que meus alunos também tinham frustração semelhante e, juntos,
arquitetamos um clube do livro, que funcionaria no semestre seguinte. Eu ainda
demorei uns 2 meses para fazer a chamada. Convidei amigos, amigas, os alunos da
turma com quem dividi minha vergonha e outros alunos da Graduação.
Quando convidei meus amigos e
amigas, fiquei muito constrangida ao receber as negativas cheias de verdade de
sua falta de tempo. Alguns se admiraram com o fato de eu encontrar tempo para
isso! Nova vergonha... O fato é que nunca achei esse tempo, mas como afirmou
Kabat-Zinn: “Você não pode parar as ondas, mas pode aprender a surfar”. Minha
desculpa, ou minha escolha por esses amigos e amigas, foi que há pessoas a quem
a gente quer tão bem ou ama tanto que deseja até a intimidade de uma leitura
comum!
Que leitura foi essa? Desde muito
antes da disciplina da Pós, eu me ressentia de nunca ter lido Em busca do tempo perdido de Marcel
Proust, que eu via tão citado por toda a parte que eu queria bem! Pois foi essa
a proposta de leitura. Ela atraiu 9 pessoas que, ao longo de 3 meses, leram o
primeiro volume e se encontraram de 15 em 15 dias para trocar impressões. Desde
o primeiro dia, prometi que não seria a professora
do clube, mas a animadora. Uma das
participantes denunciou o prazer que senti ao manipular retratos de Proust para
divulgar os encontros do clube... Eu me animei! No dia 19 de dezembro, 5
sobreviventes terminaram No caminho de
Swann. Tiramos uma foto desafiadora, mesmo sabendo que faltam 6 volumes
para resgatar esse tempo perdido...
Nesses 3 meses, só para o primeiro volume(!), um outro foi
escrito para recontar os desafios que enfrentamos. As culpas recaíam todas
sobre outras... leituras! Imaginei grandes duelos entre meus livros e os dos meus
alunos, sangue escorrendo de nossas mãos. Eu me vi cortejada por palavras sedutoras
que me convidavam a renunciar a meu compromisso com os documentos que disfarçam
as realidades... O pensamento preso em Swann e em Odette. Prisioneira de amores
ilícitos, eu!?!
O meu volume tem as margens
preenchidas pelo meu encantamento. Já consagrei meu tempo a pensar nessas
anotações que fazemos aos livros “Cochichos nas margens...”: http://literistorias.blogspot.com.br/2015/09/cochichos-nas-margens-sobre-as.html
Sugeri aos sobreviventes a recolha de frases que seriam como aforismos
proustianos, divulgados para atrair novas adesões ao clube! Alguém mais se
anima? Proust nos deu muitas frases para pensar e inspirou novos gostos
gastronômicos...
Ela
mandou buscar um desses bolinhos pequenos e cheios chamados madalenas e que
parecem moldados na valva estriada de uma concha de S. Tiago.
Fome...
Eu já tenho compromissos para o ano
que vem, definidos na agenda que comprei ontem pela manhã e já tenho o desvio –
“o meu tempo não vale tanto assim”, é Francisca quem o diz no 1º volume... Em
janeiro, não haverá encontro do clube e, em fevereiro, retomamos a leitura, a
partir do segundo: “A sombra das raparigas em flor”. Isso significa que há
TEMPO (!) para novas adesões e talvez a gente só consiga mesmo “mais tempo” na
vida lendo!
A
quem seguiu esse texto até agora, eu desejo muitas páginas escritas e lidas (na
solidão do quarto ou em clubes do livro) em 2016 e um Natal tão cheio de verdade quanto o do conto “Natal” de
Miguel Torga!
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