terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Clube do livro – para quem não tem tempo a perder!

“Há algo que você sempre pode dizer às pessoas que querem aprender mais sobre o mundo e não sabem como achar uma causa para apoiar. Você sempre pode mandar que elas leiam” (Clube do livro do fim da vida).

No último setembro arrancado da folhinha, eu fiz uma chamada para a constituição de um CLUBE DO LIVRO. A ideia não nasceu de uma inspiração particular. Eu tinha lido, em 2013, o Clube do Livro do fim da vida de Will Schwalbe, sugestão de uma grande leitora e que rendeu muito em minha própria vida. Vi aquele filme fofo Clube de leitura de Jane Austen (eu adoro Persuasão e Orgulho e Preconceito, nessa ordem...), de 2007. Depois de tudo, eu ainda ministrei uma disciplina na Pós sobre A memória, a história e o esquecimento de Paul Ricoeur, que funcionou como um clube do livro. Em uma das aulas, eu disse que tinha vontade de me livrar da grande vergonha de não ter lido alguns livros importantes, incríveis, e que, por várias razões, ficaram para trás. Descobri que meus alunos também tinham frustração semelhante e, juntos, arquitetamos um clube do livro, que funcionaria no semestre seguinte. Eu ainda demorei uns 2 meses para fazer a chamada. Convidei amigos, amigas, os alunos da turma com quem dividi minha vergonha e outros alunos da Graduação.
Quando convidei meus amigos e amigas, fiquei muito constrangida ao receber as negativas cheias de verdade de sua falta de tempo. Alguns se admiraram com o fato de eu encontrar tempo para isso! Nova vergonha... O fato é que nunca achei esse tempo, mas como afirmou Kabat-Zinn: “Você não pode parar as ondas, mas pode aprender a surfar”. Minha desculpa, ou minha escolha por esses amigos e amigas, foi que há pessoas a quem a gente quer tão bem ou ama tanto que deseja até a intimidade de uma leitura comum!
Que leitura foi essa? Desde muito antes da disciplina da Pós, eu me ressentia de nunca ter lido Em busca do tempo perdido de Marcel Proust, que eu via tão citado por toda a parte que eu queria bem! Pois foi essa a proposta de leitura. Ela atraiu 9 pessoas que, ao longo de 3 meses, leram o primeiro volume e se encontraram de 15 em 15 dias para trocar impressões. Desde o primeiro dia, prometi que não seria a professora do clube, mas a animadora. Uma das participantes denunciou o prazer que senti ao manipular retratos de Proust para divulgar os encontros do clube... Eu me animei! No dia 19 de dezembro, 5 sobreviventes terminaram No caminho de Swann. Tiramos uma foto desafiadora, mesmo sabendo que faltam 6 volumes para resgatar esse tempo perdido...
Nesses 3 meses, só  para o primeiro volume(!), um outro foi escrito para recontar os desafios que enfrentamos. As culpas recaíam todas sobre outras... leituras! Imaginei grandes duelos entre meus livros e os dos meus alunos, sangue escorrendo de nossas mãos. Eu me vi cortejada por palavras sedutoras que me convidavam a renunciar a meu compromisso com os documentos que disfarçam as realidades... O pensamento preso em Swann e em Odette. Prisioneira de amores ilícitos, eu!?!
O meu volume tem as margens preenchidas pelo meu encantamento. Já consagrei meu tempo a pensar nessas anotações que fazemos aos livros “Cochichos nas margens...”: http://literistorias.blogspot.com.br/2015/09/cochichos-nas-margens-sobre-as.html Sugeri aos sobreviventes a recolha de frases que seriam como aforismos proustianos, divulgados para atrair novas adesões ao clube! Alguém mais se anima? Proust nos deu muitas frases para pensar e inspirou novos gostos gastronômicos...

Ela mandou buscar um desses bolinhos pequenos e cheios chamados madalenas e que parecem moldados na valva estriada de uma concha de S. Tiago.

Fome...
Eu já tenho compromissos para o ano que vem, definidos na agenda que comprei ontem pela manhã e já tenho o desvio – “o meu tempo não vale tanto assim”, é Francisca quem o diz no 1º volume... Em janeiro, não haverá encontro do clube e, em fevereiro, retomamos a leitura, a partir do segundo: “A sombra das raparigas em flor”. Isso significa que há TEMPO (!) para novas adesões e talvez a gente só consiga mesmo “mais tempo” na vida lendo!

A quem seguiu esse texto até agora, eu desejo muitas páginas escritas e lidas (na solidão do quarto ou em clubes do livro) em 2016 e um Natal tão cheio de verdade quanto o do conto “Natal” de Miguel Torga!


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