Vejam
só, hoje de manhã expliquei no café da manhã para um dos meus filhos a
metodologia prosopográfica e ele entendeu!!!!!!!!! Então, em primeiro lugar a
implacável constatação de que temos uma casa de nerds e em segundo lugar, que se ele que estuda Física entendeu e
até achou interessante do ponto de vista metodológico talvez fosse útil tentar
rascunhar a sintética explicação matutina e divulgar no blog da Mar. Mas
será justo destacar que também adoramos falar de abobrinhas em muitos momentos,
não se iludam.
Mas,
afinal o que é esta tal de Prosopografia ?
É uma
metodologia de base de pesquisa em Ciências Humanas, incluindo-se aí, a
História, já bem antiga, mas que hoje a historiografia aplica de forma mais
rigorosa. Vamos ver se conseguimos sintetizar as operações básicas e as
reflexões prévias à sua aplicação.
Em
primeiro lugar, seleciona-se um grupo de estudo que disponha de elementos em
comum, sejam eles profissionais, partidários, a vinculação a uma ordem, facção
ou mesmo estarem todos numa mesma função. Nós, particularmente analisamos um
conjunto de nobres de diversos estratos nobiliárquicos diferentes que compõem a
sociedade política de um determinado rei. Este grupo será objeto de análise: em
primeiro lugar cada um dos componentes deste universo selecionado cuja
trajetória individual será construída a partir de todas as menções encontradas
em fontes. No nosso caso, que trabalhamos com recorte medieval, devemos
considerar que os vínculos e relações de poder têm uma dimensão pessoal, era
assim que funcionava o jogo sócio-político medieval. Analisa-se, de partida,
para cada um, sua origem, condição de nascimento, legítimo ou bastardo, sua
posição na linhagem, primogênito ou secundogênito. Em seguida, as relações
artificiais que completam a rede de vinculações de sangue, quais sejam, as
relações matrimoniais que ele estabelece, as alianças inter ou
intra-linhagísticas que busca construir, da mesma forma que as relações
vassálicas que busca para si.
Mas
esta construção de uma trajetória ainda que individualizada não pode ser
exclusivamente individual, devemos contrapô-la todo o tempo com seu contexto
relacional. Sim, é essencial que haja clareza na problemática específica que
provoca a pesquisa, assim, em nosso caso, o eixo contextual é a instituição
monárquica visto que trabalhamos com a hipótese de que a sociedade política do
rei “x” influencia e em certos casos determina os rumos e focos de sua
governação. Lembrem-se, esta reflexão só é plenamente válida no contexto de
sistema de valores e relações de poder medievais! Para cada contexto tem de
haver uma reflexão específica e um estudo prévio das regras de funcionamento da
sociedade em questão. Assim, em nossa pesquisa, a trajetória do indivíduo deve
ser analisada à luz do contexto de legislação, jurídico e administrativo do rei
com o qual se pretende relacionar.
Além
disso, existe um nível de análise transversal a toda pesquisa histórica, a
crítica externa e interna das fontes que inclui o conhecimento dos contextos de
produção dos documentos sejam eles, cartas, tratados, crônicas, atas,
literatura genealógica, inquirições, qualquer uma delas merece reflexão. Por
que rememorar tal cenário? Por que registrar esta ou aquela informação, doação,
casamento, ordenar em listas genealógicas os nomes dos indivíduos que compõem
uma família, confirmar este ou aquele direito, legitimar esta ou aquela
dinastia através do ato de contar a sua história? Enfim, são muitas as
perguntas para aquele que necessita contextualizar suas fontes. Precisamos
filtrá-las em suas intenções declaradas e principalmente nas sub-reptícias
enquanto avaliamos as condições de validade do relacionamento de seus dados à
trajetória do indivíduo em construção. Assim, quando se realizar a operação de
relacionamento dos materiais documentais o pesquisador estará capacitado a
reconhecer a logicidade do ordenamento das fontes a considerar em sua pesquisa
evitando a produção de resultados equivocados.
Finalmente
chega-se ao momento de relacionar as trajetórias individuais entre si de onde
se poderão extrair perfis de atuação, produto por excelência deste tipo de
metodologia. Analisar o que ele tem de comum e o que tem de extraordinário, de
competência e excepcionalidade em seu contexto. Este tipo de conclusões
permitem que escapemos de generalizações extraídas de obras construídas por
não-especialistas que incorrem no equívoco de reproduzir modelos construídos em
fontes de forte intenção ideológica medieval propagadoras de modelos ideais de
nobre, cavaleiro, rei, mulher e tantas outras categorias que seria fastidioso
citar. Afinal, fazer ciência é justamente fugir da generalidade e entrar na
Demanda do Graal da especificidade!
Bem,
tomara que meu texto tenha escapado das artimanhas do hermetismo acadêmico que
vaga por todo mundo tentando encobrir as incompetências com um manto de
sabedoria inalcançável! Pelo menos, de minha parte, foi um prazer dividir com
vocês estas reflexões que podem inspirar outros a participarem desta aventura
irresistível do conhecimento.
por
Fátima Regina Fernandes
Professora de História Medieval na UFPR (quase titular... Dezembro chega logo!!!!!!), minha orientadora no Doutorado.
Professora de História Medieval na UFPR (quase titular... Dezembro chega logo!!!!!!), minha orientadora no Doutorado.
Foto tirada no casamento de nossos queridos alunos Naiara e Thiago Stadler!
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