quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Diálogo sobre o tempo - LANÇAMENTO!

Com muita alegria, convido-os para o lançamento do meu novo livro, escrito com o amigo, o filósofo Jelson Oliveira. Escrevemos sobre o Tempo, sobre a História, sobre a Morte, sobre a Amizade e sobre o Futuro. Não se trata de uma Historiadora e de um Filósofo que abordam temas a partir dos seus lugares de eleição, mas de textos que conversam e extravasam, até para as margens da folha... Nova feição do Diálogo e da Epistolografia? Talvez... Uma conversa entre amigos, pessoas tagarelas... entre a Filosofia e História!

Prefácios de Željko Loparić e Fátima Regina Fernandes.



Dia 4/12, a partir das 18:30, na Livraria da Vila (Shopping Pátio Batel). Para abrir a noite, Mateus Sokolowski e seus amigos, a quem agradeço de coração.


quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Resultado do III Prêmio UFES de LITERATURA

Gratidão à comissão que leu o meu pequeno romance por esse reconhecimento!
http://www.edufes.ufes.br/exhibits/show/novidades/resultado-do-iii-pr--mio-ufes-

ESTADO EMOCIONAL: FELICIDADE TRANSBORDANTE!

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Carta de uma mãe (que por acaso é medievalista) ao Ministro da Educação, sobre a BNCC

Curitiba, 20 de novembro de 2015

Excelentíssimo Senhor Aloizio Mercadante, Ministro da Educação,

Não sei se esta mensagem vai alcançá-lo, mas, se eu não a escrever, vou abrir mão da possibilidade. Sou Professora de História Medieval na UFPR, desde 2006. Meu currículo está disponível na plataforma lattes. Lá, Vossa Excelência vai ver que me formei em Letras, que fiz Mestrado em Literatura, que mudei de área no Doutorado, que já escrevi alguns livros, até uma coleção para crianças (a coisa mais linda que fiz em minha carreira), que tive um livro meu selecionado no PNBE do Professor (em 2013), que tenho um blog e até me aventuro pela Literatura. Não vou perturbá-lo com mais detalhes sobre a minha formação e experiência, pois elas podem ser consultadas na rede. O que me leva a acreditar na possibilidade de ser lida é a BNCC.
Li o documento com atenção e tenho militado pela colaboração de colegas, alunos e pais na consulta pública. Tenho uma filha de 7 anos. A Base impactará a formação de Maria Clara, bem como a de seus amigos e amigas. Impactará o trabalho de meus alunos e a minha área, que foi construída com tanto empenho no nosso país, por gerações que já começaram a partir...
Detive-me na parte dedicada à História. Pensei sobre ela e inseri minha colaboração como cidadã. Senhor Ministro, a Base tem falhas graves... O mundo não nasceu no século XVI, como o senhor bem sabe, mas esse é o tom... Conversei com os colegas de meu laboratório de pesquisa, o NEMED (Núcleo de Estudos Mediterrânicos) e elaboramos um documento cujos pontos essenciais já foram incluídos na consulta, ou seja, colaborei individualmente e, de maneira coletiva, como participante de um grupo de pesquisa cadastrado no CNPq. Um fragmento de nosso documento:
Imporemos assim, um brasilcentrismo tão ou mais perigoso quanto o europecentrismo que esta proposta quer combater. Como discutir Ciência e produção do conhecimento sem antes conhecerem o contexto de fundação das primeiras Universidades, dos ambientes de produção do conhecimento nos espaços árabes e gregos, discutir cidadania sem conhecer o conceito nos ambientes grego e romano, como saber de onde partiram as primeiras e fundamentais reflexões sobre o Direito desde a época dos romanos e boa parte das instituições que nos cercam até hoje? Uma parte dos dados culturais que constituem nossa tradição cultural brasileira seria apagada da História da mesma forma que antigas escolas europeias fizeram com as culturas ameríndias e africanas em séculos anteriores segundo interesses específicos. Ao aplicar seleções de conteúdo a nossos jovens estaremos praticando uma espécie de revanchismo pobre, ideologizado, tão corruptor das mentes juvenis como o daqueles que nos antecederam.

Senhor Ministro, eu sou membro da diretoria da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais) e, em consulta aos meus pares, não consegui descobrir um único colega que tenha participado da elaboração desse importante documento. Não sei se esta ausência explica os problemas que encontrei e que outros colegas encontraram, mas estou disposta a ajudar. É isso que me leva a escrever-lhe. Senhor Ministro, eu sou uma servidora pública e, depois que a consulta tiver se encerrado, gostaria de me colocar à disposição do MEC para ajudar a redigir uma Base que acolha as colaborações de tantas pessoas interessadas na formação das crianças e adolescentes brasileiros.
Estamos atravessando uma grande mudança história, as movimentações populacionais que assistimos vão mudar quem somos e, para termos um futuro, é preciso que compreendamos as identidades que nos tocam. Sobre o terceiro ano do Ensino Médio, escrevemos em nosso documento coletivo:
Sobressai a evidência forçada de que o mundo “começou” no século XVI... Depois de 2 anos repisando essa inverdade, os alunos podem se convencer de que não houve pensamento, filosofia, tecnologia, convivência, brilho e dor antes desse “marco”.
Como ao longo de todo o Ensino Médio, segundo a proposta dessa Base, os alunos ficaram sem conhecer o Ocidente Latino, Bizâncio e o Mundo Muçulmano, os medievalistas se perguntam como os jovens poderão entender a ressonância de um fenômeno como a Primavera Árabe?! Como entenderão a ressonância do Prêmio Nobel para o quarteto de Túnis (a Túnis do sábio muçulmano medieval Ibn Khaldun...)? Sem entender que o mundo muçulmano na Idade Média alimentou de filosofia o próprio Ocidente Latino, como as alunas e os alunos verão homens e mulheres dessa religião, e que chegam hoje ao Brasil em grandes contingentes, para além do fundamentalismo que a mídia proclama? Aliás, como entenderão o nascimento do próprio fundamentalismo, cujas correntes contemporâneas estão radicadas em interpretação equivocada de pensamento nascido na Baixa Idade Média?
Como um aluno que encerra seus estudos regulares, entre o Ensino Fundamental e Médio no Brasil, entenderá que só pode ler Aristóteles porque ele foi traduzido e comentado na Idade Média? Ao ignorar esse contexto, tiraremos dos jovens a aprendizagem dos caminhos de transmissão das fontes com as quais o pensamento científico se fez, entre a Época Moderna e Contemporânea.
O mundo não começou no século XVI nem para África, nem para o Brasil, nem para Portugal, nem para qualquer outra parte desse planeta em que homens e mulheres, graças ao conhecimento da História, podem descobrir que uma guerra pode até ter durado mais de 100 anos (a Guerra dos Cem Anos: 1337 – 1453), mas que as sociedades do passado encontraram meios de alcançar a paz. O conhecimento histórico pode dar esperança aos jovens, ao mostrar com evidências diversas que as sociedades mudam, que se refazem, que empregam tempo e energia diversos para encontrarem soluções para seus problemas.

Senhor Ministro, a História me deu e dá ainda... esperança. Mais uma vez, não sei se essa mensagem chegará à Vossa Excelência, mas resolvi tentar e dizer claramente que estou disposta a ajudar.
Despeço-me com sinceros votos de que sua gestão seja coroada pela elaboração da Base mais equilibrada para a formação de nossas crianças e jovens: nossos filhos, filhas, seus amigos, futuros médicos, professores e ministros.
Marcella Lopes Guimarães.


PS.: Essas foram as leituras de ontem à noite para Maria Clara. Entre as Histórias à brasileira, recontadas por Ana Maria Machado, a "Moura Torta". Depois, Obax, a menina que acreditava em chuva de flor. Que nossas crianças tenham direito à fruição de todas as histórias...

Resposta do Gabinete (de ontem, 23/11/2015):
Prezado(a) Senhor(a),
Informamos que sua mensagem endereçada ao Ministro de Estado da Educação foi encaminhada à Secretaria de Educação Básica (SEB), por tratar-se de matéria de competência daquela Secretaria.
Caso queira obter mais informações, sugerimos que entre em contato diretamente com a SEB, por meio do e-mail: gabinete-seb@mec.gov.br .

Atenciosamente,

Coordenação de Gestão e Apoio Administrativo
Gabinete do Ministro
Ministério da Educação
Bloco L – Ed. Sede, 8° Andar – sala 811
Cep: 70.047-900 - Brasília/DF
É(61) 2022.7866
* apoioadministrativogm@mec.gov.br

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Sobre a liberdade ou o desapego, dependendo do ponto de vista...

Cavalgada

O guia afirmou que o passeio até a cachoeira duraria uma hora. Era longe assim? Não, era pertinho, mas só dava para cavalgar até uma parte, o resto se cumpria a pé mesmo e ainda tinha o tempo de descalçar as botas e avançar para a água. Decidiu-se, agarrou as rédeas e seguiu o tio e os primos mais velhos. No alto da égua branca, acarinhada desde a véspera, tinha resolvido não olhar para trás, mas no último pedaço de caminho em que era possível ver os pais com o coração na mão, ofereceu o consolo de um olhar. Ao voltar-se, sentiu que seus cabelos encobriam todo o rosto e até enxugaram uma lágrima. Nunca pensou que se chorasse de coragem, descobriu na cavalgada.
Tentou lembrar se a mãe passara o protetor solar, o repelente... Esqueceu o chapéu com flor! Ai, agora, era tarde. Nem dava para voltar. Eram os primeiros riscos que tinha de assumir. Descavalgou. O trecho a pé era tão longo quanto o percorrido a cavalo. A ponte é essa tabuinha sobre o riacho? Dá a mão pro tio. Pela mão do tio, chegou aquele absurdo de água jorrante! Se soubesse, tinha levado maiô. Fica pra a próxima, avisaria à mamãe. Não, colocaria ela mesma o maiô na mala. Na próxima. Molhou a mão; mergulhou-a. Achou a mão debaixo d’água maior que a da superfície! Tirou. Era a mesma mão com pressa de nadar.
Voltar é uma decisão mais comprida que partir, descobriu. Mais encalorada, sedenta e cansativa. Voltar era confrontar os mesmos riscos? Os primos apostaram corrida. Tentou convidar a sua égua mansa a participar da competição, mas o tio fez que não. Olhou para os lados. Essa plantação de milho estava aqui? Não sabia se os primos, já distantes, tinham reparado. Parecia uma plantação ainda pequena, toda verdinha, sem frutos, mas valente. O guia afirmou que esses milhos não alimentariam as pessoas e sim os animais. Achou curiosa essa sintonia de gostos. O primeiro que viu foi o pai. Mas logo descobriu a mãe na varanda. Empinou-se para o encontro. Quando chegou, sofreu a vergonha das palmas. Abraçou-se a égua com quem correu o mundo e voltou resoluta para os beijos e abraços de quem lhe quis dar.

Para Maria Clara Guimarães Prado que, em 15/11/2015,

fez sua primeira trilha a cavalo, sem os pais.


segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Fátima Regina Fernandes responde: "Afinal o que é esta tal de Prosopografia?"

     Vejam só, hoje de manhã expliquei no café da manhã para um dos meus filhos a metodologia prosopográfica e ele entendeu!!!!!!!!! Então, em primeiro lugar a implacável constatação de que temos uma casa de nerds e em segundo lugar, que se ele que estuda Física entendeu e até achou interessante do ponto de vista metodológico talvez fosse útil tentar rascunhar a sintética explicação matutina e divulgar no blog da Mar. Mas será justo destacar que também adoramos falar de abobrinhas em muitos momentos, não se iludam.
     Mas, afinal o que é esta tal de Prosopografia ?
É uma metodologia de base de pesquisa em Ciências Humanas, incluindo-se aí, a História, já bem antiga, mas que hoje a historiografia aplica de forma mais rigorosa. Vamos ver se conseguimos sintetizar as operações básicas e as reflexões prévias à sua aplicação.
     Em primeiro lugar, seleciona-se um grupo de estudo que disponha de elementos em comum, sejam eles profissionais, partidários, a vinculação a uma ordem, facção ou mesmo estarem todos numa mesma função. Nós, particularmente analisamos um conjunto de nobres de diversos estratos nobiliárquicos diferentes que compõem a sociedade política de um determinado rei. Este grupo será objeto de análise: em primeiro lugar cada um dos componentes deste universo selecionado cuja trajetória individual será construída a partir de todas as menções encontradas em fontes. No nosso caso, que trabalhamos com recorte medieval, devemos considerar que os vínculos e relações de poder têm uma dimensão pessoal, era assim que funcionava o jogo sócio-político medieval. Analisa-se, de partida, para cada um, sua origem, condição de nascimento, legítimo ou bastardo, sua posição na linhagem, primogênito ou secundogênito. Em seguida, as relações artificiais que completam a rede de vinculações de sangue, quais sejam, as relações matrimoniais que ele estabelece, as alianças inter ou intra-linhagísticas que busca construir, da mesma forma que as relações vassálicas que busca para si.
     Mas esta construção de uma trajetória ainda que individualizada não pode ser exclusivamente individual, devemos contrapô-la todo o tempo com seu contexto relacional. Sim, é essencial que haja clareza na problemática específica que provoca a pesquisa, assim, em nosso caso, o eixo contextual é a instituição monárquica visto que trabalhamos com a hipótese de que a sociedade política do rei “x” influencia e em certos casos determina os rumos e focos de sua governação. Lembrem-se, esta reflexão só é plenamente válida no contexto de sistema de valores e relações de poder medievais! Para cada contexto tem de haver uma reflexão específica e um estudo prévio das regras de funcionamento da sociedade em questão. Assim, em nossa pesquisa, a trajetória do indivíduo deve ser analisada à luz do contexto de legislação, jurídico e administrativo do rei com o qual se pretende relacionar.
     Além disso, existe um nível de análise transversal a toda pesquisa histórica, a crítica externa e interna das fontes que inclui o conhecimento dos contextos de produção dos documentos sejam eles, cartas, tratados, crônicas, atas, literatura genealógica, inquirições, qualquer uma delas merece reflexão. Por que rememorar tal cenário? Por que registrar esta ou aquela informação, doação, casamento, ordenar em listas genealógicas os nomes dos indivíduos que compõem uma família, confirmar este ou aquele direito, legitimar esta ou aquela dinastia através do ato de contar a sua história? Enfim, são muitas as perguntas para aquele que necessita contextualizar suas fontes. Precisamos filtrá-las em suas intenções declaradas e principalmente nas sub-reptícias enquanto avaliamos as condições de validade do relacionamento de seus dados à trajetória do indivíduo em construção. Assim, quando se realizar a operação de relacionamento dos materiais documentais o pesquisador estará capacitado a reconhecer a logicidade do ordenamento das fontes a considerar em sua pesquisa evitando a produção de resultados equivocados.
     Finalmente chega-se ao momento de relacionar as trajetórias individuais entre si de onde se poderão extrair perfis de atuação, produto por excelência deste tipo de metodologia. Analisar o que ele tem de comum e o que tem de extraordinário, de competência e excepcionalidade em seu contexto. Este tipo de conclusões permitem que escapemos de generalizações extraídas de obras construídas por não-especialistas que incorrem no equívoco de reproduzir modelos construídos em fontes de forte intenção ideológica medieval propagadoras de modelos ideais de nobre, cavaleiro, rei, mulher e tantas outras categorias que seria fastidioso citar. Afinal, fazer ciência é justamente fugir da generalidade e entrar na Demanda do Graal da especificidade!
     Bem, tomara que meu texto tenha escapado das artimanhas do hermetismo acadêmico que vaga por todo mundo tentando encobrir as incompetências com um manto de sabedoria inalcançável! Pelo menos, de minha parte, foi um prazer dividir com vocês estas reflexões que podem inspirar outros a participarem desta aventura irresistível do conhecimento.
por
Fátima Regina Fernandes
Professora de História Medieval na UFPR (quase titular... Dezembro chega logo!!!!!!), minha orientadora no Doutorado.

  

Foto tirada no casamento de nossos queridos alunos Naiara e Thiago Stadler!